No
 último ano, o setor de economia brasileiro cresceu em torno de 2,7% (segundo algumas referências do Globo.com) e, com esse aumento na 
economia, um dos setores que mais vem se destacando na área da saúde é o dos Spas,
 acompanhado da indústria do bem-estar, envolvendo desde cosméticos, até
 produtos direcionados à estética, clínicas de estética e por que não 
dizer academias de ginástica também? Só na Metrópole 
São Paulo, foram abertas cerca de 2445 empresas relacionadas a estética e
 isso mostra a possível ascendência das classes sociais, cada vez mais 
evoluindo de nível e obtendo novas possibilidades.
Acompanhada pouco a pouco neste crescimento, a necessidade da criação não somente de novos métodos,
 mas principalmente de novas formas de atrair o consumidor para esse 
mercado (principalmente quando há diferenciais mais significativos), 
tornou-se maior, visto a concorrência. E não é a toa que hoje esta 
necessidade é cada vez maior, em que cada esquina encontramos 
facilmente mais um ginásio novo com métodos e diferenciais novos.
               Diante disso um dos diferenciais que mais vem sendo trabalhados, e 
que na verdade já existe a muito tempo mas diariamente passa por 
modificações e alterações em sua configuração (não necessariamente os 
deixando piores ou melhores), é o chamado “treinamento funcional”.
 Mas, do que se trata exatamente o treinamento funcional? Força? 
Hipertrofia? Resistência? Apenas um treino? Semana sim, semana não? Um 
tipo de treinamento que necessariamente fuja a regra?
               Ao desmembrarmos o nome “treinamento” e 
“funcional”, pelo dicionário, os significados de palavras que mais se 
adaptam e/ou encaixam neste contexto são “ato de treinar, adestrar, acostumar” e “algo prático, que funcione”. Assim, podemos chegar a conclusão que este treinamento funcional
 (ou estes) são na verdade formas de realizar trabalhos de adaptação 
quebrados dia-a-dia e que funcionem de maneira prática. Logo, a 
praticidade não pode interferir no fato do trabalho ter de funcionar, 
por definição. E isso já nos leva a imaginar o que realmente pode ou não
 ser efetivo na busca de determinado resultado.
               O treinamento funcional
 não é algo atual, por incrível que pareça. Podemos imaginar que, 
instintivamente, nossos antepassados já realizavam métodos projetados e 
específicos que pudessem aumentar sua aptidão física para algum objetivo
 específico: Caçar, conseguir alimentos em locais de difícil 
acessibilidade, construir suas moradias, fugir de algum tipo de perigo 
eminente etc. Portanto, cada dia mais, apenas modificamos o que já 
existe.
Voltando ao que é o treinamento funcional, propriamente dito, este é um trabalho onde se busca através de gestos específicos ou não movimentos que são utilizados em nosso dia-a-dia ou que fogem completamente do usual para de alguma forma otimizar nossas aptidões físicas (em especial as musculares), nossas aptidões de propiocepção e, principalmente, neuromotoras (além da busca em geral pela saúde). Sendo o corpo humano um projeto que funciona sinergicamente com cascata de reações que acontecem perfeitamente e mais externamente com uma sinergia mecânica extremamente complexa e muitas vezes até difícil de ser compreendida, este é controlado diretamente pelo sistema nervoso central que age concomitantemente e de maneira bastante eficaz tanto com as mínimas regiões e estruturas que compõe nosso corpo até com as mais externas estruturas, como os músculos esqueléticos. Assim, esses gestos que são ou não comuns ao nosso cotidiano (puxar, correr, agarrar, empurrar, torcer) são adicionados com técnicas e equipamentos (que envolvem desde elásticos a pesos, bolas, rolos, caneleiras, cordas) que possibilitam um aumento na dificuldade ou na funcionalidade dos mesmos, fazendo com que o corpo necessite cada vez mais se adaptar diante de novas situações.
               Difundido inicialmente nos Estados 
Unidos e hoje no mundo todo, não sabemos ao certo quais ou qual foi o 
primeiro indivíduo a propositalmente elaborar um ou mais sistemas de treinamento funcional, entretanto, sabemos que de alguma forma ele tem tomado proporções cada
 vez maiores dentro dos ginásios (proporção essa que muitas vezes até 
ultrapassa um pouco sua real funcionalidade, do termo “funcionar”, 
lembra?).
               As vantagens que o 
treinamento funcional apresentam vão além dos fatores unicamente 
trabalhados na musculação. Mas, espere! Não estou dizendo que a 
musculação seja um esporte incompleto, muito pelo contrário. Sessões de 
musculação bem feitas são extremamente completas e valem para todos os 
músculos. Entretanto, se podemos aperfeiçoar alguns destes que não são o
 enfoque principal da musculação, então ainda obteremos mais resultados e
 consequentemente um melhor desempenho da musculação em si, seja em 
quesitos de força, estabilidade, equilíbrio, melhora na respiração, 
melhora na coordenação motora, melhora da postura dentro e fora do 
exercício, formas de execução e também consciência corporal. Aliás, por falar justamente em consciência corporal,
 essa é uma das maiores vantagens que particularmente vejo no 
treinamento funcional: Ele nos faz conseguir enfocar conscientemente em 
algumas regiões do corpo com ou sem o uso de determinados equipamentos 
que naturalmente se quer sabemos que elas existem.
               Analogicamente, quando iniciamos na 
musculação, um dos grupamentos que mais demoramos para notar algum tipo 
de dor tardia pós-treino são os dorsais. Isso porque, apesar de 
utilizados constantemente, não são músculos que recebem uma atenção 
consciente nossa e tampouco ações relacionadas a contrações máximas. Com o desenvolver do tamanho dos mesmos (fibras musculares) e da 
propriocepção que começa a se criar com os mesmos após algum tempo de 
musculação, então não só passamos a observar algum tipo de dor 
pós-treino, mas implicitamente também trabalhá-los 
melhor durante a execução dos movimentos para tais.
               Vamos imaginar a seguinte situação: Se imagine em um banco de supino reto
 com um par de halteres, você deita no banco e 
executa 8 movimentos em boa forma sem grandes dificuldades. Agora, 
imagine exatamente a mesma situação, mas ao invés de você estar deitado
 em um banco plano de supino você se encontra em um banco com angulação
 de 45º, ou o que chamamos de supino inclinado e com a mesma carga. O 
movimento é facilitado ou dificultado? Pela biomecânica do exercício e 
pelo grau de isolamento no peitoral, ele será dificultado. Você ou
 realizará menos repetições, ou realizará repetições parcialmente 
completas ou terá de diminuir o peso. Agora, imaginemos uma terceira 
situação: Você, ao invés de realizar o supino em um banco, seja ele reto
 ou inclinado onde você tem todo um apoio e suporte focando no músculo
 específico alvo (apesar de simultaneamente estar trabalhando diversos 
outros músculos auxiliares e sinérgicos também), você está em uma bola 
daquelas de Pilates que toda academia tem. Será que você sequer 
conseguiria realizar o movimento com esta carga? Eu, particularmente 
duvido! Mas por que isso ocorre? Simplesmente porque causamos uma 
desestabilidade no corpo, forçando-o a trabalhar e ativar outros 
grupamentos musculares além do grupamento alvo principal. Isso 
faz com que mais energia seja desprendida para o controle, equilíbrio e 
força; faz com que você fique ainda menos relaxado e então, através 
dessa desestabilidade, é que começamos a obter certa estabilidade. Isso 
fará com que posteriormente isso possa ter algum tipo de aplicação no 
treino básico com pesos. [...] Claro que os 
benefícios não param por aí, pois muitas vezes esquecemos de até mesmo respirar corretamente
 quando trabalhamos com altas cargas na musculação clássica (tanto 
porque na maioria dos casos o que vemos são apenas apneias) e o corpo 
necessita de uma boa oxigenação nos tecidos para continuar com máxima 
eficiência no exercício físico. O treinamento funcional muitas vezes pode auxiliar neste processo favorecendo um pouco as condições cardiovasculares do atleta no treino clássico.
              Para quem deseja hipertrofia máxima, a regra é sempre dar preferência aos pesos básicos. A aplicabilidade do treinamento 
funcional também pode envolver a readaptação e/ou a recuperação de 
indivíduos e atletas que se encontram em estado de lesão. Muitas vezes 
esses atletas são impedidos de realizar determinado movimento ou até 
mesmo podem realizá-lo, mas sem gerar lá grande sobrecarga. [...]
             Não vejo o treinamento funcional 
como substituto da musculação para um indivíduo sadio, mas o vejo como
 um complemento que pode ser aliado em algumas épocas/fases, otimizando 
ainda mais os ganhos. Porém, cabe ao praticante da modalidade ao optar 
por um método ou por outro pesquisando a respeito e ouvindo a opinião 
dos mais diferenciados profissionais possíveis, fazendo com que o aval 
seja dado diante do que melhor lhe for encaixado e conveniente, 
respeitando os limites do corpo e as preferências pessoas. Muita atenção nesses métodos que são dia-a-dia lançados. A indústria do 
bem-estar na verdade pode ser uma faca de dois gumes e você certamente 
vai querer sempre o seu melhor, não é mesmo?
MARCELO SENDON RISDEN
CREF: 069448-G-SP
Originalmente publicado em "Dicas de Musculação" .

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