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domingo, 12 de maio de 2013

Muscularidade e gordura corporal


              Costumo dizer que quando o paciente não chega de muleta ou de tipoia, ele quer "secar um pouco e, se der, ganhar um pouco de volume...". A frase é a mesma, sempre, e o grande problema é que secar com volume às vezes diz mais respeito a uma coisa chamada muscularidade do que necessariamente ao percentual de gordura.


               Percentual de gordura corporal diz somente o quanto do seu peso, em porcentagem, é composto por gordura. Esse percentual pode ser comparado com o peso seco total, com o peso seco excluindo-se água ou simplesmente comparado com a massa muscular. Existem fórmulas que montam essas relações para nós quando medimos a gordura corporal através das dobras cutâneas. Também existem inúmeras formas de estimar a gordura corporal além das dobras cutâneas, como por exemplo o "bodpod" que funciona como uma pesagem hidrostática mas feita com pressão do ar dentro de um casulo (que parece ter sido retirado de um filme de Star Wars). A própria pesagem hidrostática ou ainda o método mais preciso de se avaliar gordura corporal que é o DEXA (double emission X-Ray Absortionmetry ou medida da absorção de raios-X de dupla emissão), que nada mais é do que uma máquina de raios-X que, em vez de radiografar um segmento, radiografa o corpo inteiro e estima, por densidade da imagem obtida, a quantidade de gordura corporal total.


               Vale lembrar que nenhum é 100%. A medida da gordura corporal não serve para comparar a aparência de indivíduos como eu costumo ouvir: "fulano está riscado... deve ter um percentual mais baixo que o meu!" e por aí vai porque o que mede a aparência da massa muscular é o índice de muscularidade.

              Enquanto o percentual de gordura corporal serve para acompanhar a progressão do indivíduo num esquema de treinamento e dieta alimentar, o índice de muscularidade é um método visual e subjetivo muitas vezes que serve para comparar tanto o indivíduo consigo mesmo quanto este com outros indivíduos - é um dos itens das competições de fisiculturismo. Este é usado quando falamos que fulano de tal é musculoso (se bem que muitas vezes as pessoas confundem as características falando que o sujeito é forte, quando força é uma aptidão muscular medida pela capacidade de trabalho realizada e não pela aparência da pessoa). Falar que determinada pessoa é musculosa é falar que determinada pessoa tem uma musculatura bem aparente, inclusive podemos falar isso de segmentos do corpo (fulana tem uma perna musculosa, beltrano tem costas musculosas, e por aí vai).

               O que na realidade todos querem é a aparência musculosa, isto é, muscularidade, independente do percentual de gordura que se tenha (afinal não vamos sair por aí com um crachá: eu tenho 3% de gordura corporal - já imaginou que mico), mas queremos ter a aparência de "seco" como dizemos no popular. Ter uma boa muscularidade é possuir uma relação quantidade e contorno muscular maiores com a menor taxa de gordura que isto permita. Isto porque a gordura corporal é a fonte preferencial de energia do músculo quando este não está no exercício anaeróbio (quando a beta oxidação é uma fonte de obtenção de energia secundária ou de apoio), logo, menores taxas de gordura corporal permitem menores musculaturas ou maiores desde que por um período transitório de duração variada.

              Não se iluda nem deixe que te iludam com números se o seu espelho não sorri para você. Busque a sua própria harmonia e use os dados ao seu favor e como forma de avaliação, não como forma de objetivo único.


PAULO CAVALCANTE MUZY
Médico pela Escola Paulista de Medicina/Unifesp
Especialista em Fisiologia do Exercício pelo CEFE/Unifesp
Especialista em Artroscopia e Traumatologia do Exercício pela PUC Campinas 
CRM-SP: 115.573

Originalmente publicado no blog "superperformance".

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