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quarta-feira, 29 de maio de 2013

Micronutrientes e capacidade antioxidante em adolescentes


MICRONUTRIENTES E CAPACIDADE ANTIOXIDANTE EM ADOLESCENTES SEDENTÁRIOS E CORREDORES
Revista de Nutrição da Puc-Campinas

Karla de Jesus Fernandes de Oliveira, Josely Correa Koury, Carmen Marino Donangelo

RESUMO

               Objetivo: Este estudo objetivou comparar a composição corporal, a ingestão dietética, os índices bioquímicos de micronutrientes antioxidantes e a capacidade antioxidante em adolescentes sedentários (n=15) e corredores (n=18), pós-púberes.

               Métodos: A composição corporal foi aferida por meio das dobras cutâneas, massa corporal total e estatura; a ingestão de micronutrientes foi determinada através de freqüência de consumo alimentar e os indicadores bioquímicos por coleta de sangue em jejum. Em sangue total foram determinados hematócrito e hemoglobina; em plasma, testosterona, a-tocoferol, cobre, zinco, e ceruloplasmina; em eritrócitos, fragilidade osmótica, zinco, Cu-Zn superóxido dismutase e metalotioneína.


               Resultados: A capacidade antioxidante, a ingestão dietética e a composição corporal foram similares, exceto o somatório de dobras cutâneas, que foi menor nos corredores (p<0,05). Somente a ingestão de vitamina E foi inferior às recomendações nutricionais. Não houve diferença entre os grupos para a concentração plasmática de a-tocoferol, que se apresentou, em média, abaixo do valor de referência. Os níveis plasmáticos de cobre e zinco foram, em média, adequados, sendo os níveis de cobre similares entre os dois grupos e os de zinco maiores nos corredores. Nos sedentários a fragilidade osmótica dos eritrócitos relacionou-se com a metalotioneína (r= -0,50;p<0,05) e com Cu-Zn superóxido dismutase (r= -0,50; p<0,005); nos corredores, houve relação entre Cu-Zn superóxido dismutase e zinco nos erirócitos (r=0,49; p<0,005).


               Conclusão: Os resultados sugerem que a modalidade estudada - corrida - não alterou a capacidade antioxidante além do próprio crescimento. No entanto, a prática regular de exercício favorece uma composição corporal mais adequada para os adolescentes. Há necessidade de maior atenção quanto ao estado nutricional de a-tocoferol em adolescentes.


Termos de indexação: Adolescente. Cobre. Composição corporal. Exercício. Zinco.

INTRODUÇÃO

               A adolescência é marcada por mudanças hormonais que resultam na maturidade biológica e em alterações da composição corporal. Dentro da variabilidade normal, no período da puberdade, adolescentes da mesma idade podem ser classificados em pré-púberes, púberes ou pós-púberes. A maturação e as fases de crescimento são determinantes das necessidades nutricionais em cada momento da adolescência. A demanda nutricional é ainda maior quando a adolescência é associada à prática esportiva, em conseqüência das adaptações fisiológicas que ocorrem no organismo do atleta, tais como hipertrofia das fibras musculares, aumento da síntese de tecido conjuntivo, aumento da capacidade cardiovascular e incremento do conteúdo mineral ósseo, entre outras.

               A prática de atividade física regular acarreta aumento do consumo de oxigênio, tendo como conseqüência o incremento da produção de espécies reativas de oxigênio. Essas espécies, altamente instáveis, têm como alvos principais componentes celulares como proteínas, enzimas, lipídeos, ácido desoxirribonucléico (DNA) e ácido ribonucléico (RNA), e sua ação ocasiona lesões na célula, alterando sua integridade e, conseqüentemente, sua funcionalidade. Apesar de favorecer o processo oxidativo, a atividade física também estimula a capacidade antioxidante.

               Os antioxidantes de defesa celular neutralizam a proliferação ou protegem a membrana celular da ação lesiva das espécies reativas de oxigênio, podendo ser intra ou extracelulares, enzimáticos ou não enzimáticos. Vários nutrientes da dieta são importantes para o adequado funcionamento dos sistemas antioxidantes. Entre eles destacam-se o a-tocoferol, protetor de membranas celulares, e os minerais zinco e cobre, componentes de metaloproteínas, tais como superóxido dismutase, ceruloplasmina e metalotioneína.

               A maior parte das pesquisas feitas na área de nutrição esportiva e capacidade antioxidante tem sido realizada em adultos. A resposta da capacidade antioxidante ao exercício em adolescentes, apesar de ser, possivelmente, semelhante em termos qualitativos à do adulto, poderia também ser influenciada pelo rápido crescimento e desenvolvimento próprios da adolescência.

               Não foram encontrados estudos que relacionassem níveis de micronutrientes e capacidade antioxidante em adolescentes fisicamente ativos. Este estudo objetivou comparar a composição corporal, a ingestão dietética, os índices bioquímicos de micronutrientes antioxidantes (a-tocoferol, zinco e cobre) e a capacidade antioxidante plasmática (ceruloplasmina) e eritrocítica (Cu-Zn superóxido dismutase, metalotioneína, zinco) em dois grupos de adolescentes, sedentários e praticantes de corrida como atividade física regular.

MÉTODOS

               Foram estudados 33 adolescentes, sendo 15 sedentários - sem atividade física regular e intensa - e 18 praticantes de corrida (100-400m) - atividade física regular e intensa -, do gênero masculino, com idades entre 14 e 18 anos, saudáveis e sem uso recente de medicamentos e/ou suplementos nutricionais.

               Os corredores foram selecionados ao acaso, pela Federação de Atletismo do Rio de Janeiro (FARJ), entre aqueles que mais se destacaram em diferentes competições. Os próprios corredores indicaram os adolescentes sedentários entre seu círculo de convívio, fato que garantiu a homogeneidade dos grupos em relação ao hábito alimentar.

[...]

RESULTADOS

[...]

               Em geral, os adolescentes sedentários e corredores apresentaram composição corporal semelhante, embora o somatório das sete dobras cutâneas tenha sido maior nos sedentários. [...] A ingestão dos nutrientes nos grupos estudados foi semelhante. Quando comparados aos valores médios de necessidade estimados para esta faixa etária e gênero, 100% dos adolescentes apresentaram ingestão de vitamina E inferior, 73% ingeriam cobre acima e 55% consumiam zinco no limite do requerimento. A ingestão dietética não influenciou a composição corporal nem os indicadores bioquímicos avaliados. 

               O hematócrito e a concentração de hemoglobina no sangue foram, em média, adequados e similares (hemoglobina-sedentários 13,2, DP=1,5g/dL e corredores 13,8, DP=1,5; hematócrito- sedentários 45,3, DP=4,3% e corredores 47,1, DP=3,1%).Não foram encontradas diferenças significantes nos indicadores relacionados aos micronutrientes e a capacidade antioxidante. Somente o nível de zinco plasmático foi significantemente maior nos adolescentes corredores, quando comparado aos sedentários (p<0,05). A fragilidade osmótica dos eritrócitos foi semelhante entre os grupos, com coeficiente de variação de 30% para os atletas e 11% para os sedentários.

[...]

DISCUSSÃO

               Estudos descrevem que estados fisiológicos especiais, como a adolescência, apresentam aumento de danos oxidativos em sistemas biológicos, decorrentes do intenso crescimento tecidual e de alterações hormonais característicos desta fase. No caso de adolescentes atletas, a atividade física associada poderia favorecer o estímulo da capacidade antioxidante, bem como promover alterações favoráveis à composição corporal. Além disso, um adequado aporte de micronutrientes, tais como cobre, zinco e vitamina E é capaz de manter a homeostase influenciada pelo rápido crescimento e pela prática de atividade física intensa.

               A classificação dos adolescentes em pré-púberes, púberes ou pós-púberes, pode ser realizada a partir da concentração de hormônios sexuais. Cada fase do desenvolvimento pode acarretar diferentes respostas metabólicas, características em função das alterações hormonais.

               Neste estudo, a concentração plasmática de testosterona demonstrou que os adolescentes estavam no período pós-púbere. Possivelmente, por este motivo não foram encontradas correlações entre os níveis de testosterona e os indicadores estudados, sugerindo que nesta fase o decréscimo na velocidade do crescimento não interfere diretamente sobre os indicadores bioquímicos e antropométricos avaliados.

               A atividade física e o hábito alimentar são capazes de alterar a composição corporal. O grau de alteração gerada pelo exercício depende do tipo, da intensidade e da freqüência, além da forma de obtenção de energia (aeróbia ou anaeróbia). Atletas de modalidades basicamente aeróbias tendem a ter menor acúmulo de gordura corporal, devido à maior mobilização de ácidos graxos.

               Neste estudo, observou-se como um dos maiores sítios de depósito de gordura corporal a região abdominal, sendo esse acúmulo maior nos sedentários do que nos corredores, mostrando-se consistente com a mobilização do tecido adiposo decorrente da modalidade esportiva avaliada. O maior acúmulo de gordura na região abdominal, em indivíduos sedentários, pode indicar uma provável predisposição ao surgimento de doenças cardiovasculares, sendo importante a prática de atividade física regular por adolescentes na prevenção de futuras alterações cardiovasculares.

               A ingestão de micronutrientes por atletas vem sendo bastante estudada, apesar disso não foi encontrado nenhum estudo que relatasse a ingestão de vitamina E em atletas adolescentes. A ingestão de zinco e cobre tem sido avaliada em estudantes praticantes de atividade física regular, principalmente natação.

               No presente estudo, considerando todos os adolescentes, foi observado que a ingestão habitual de cobre encontrava-se elevada, quando comparada ao valor de referência, provavelmente, pelo elevado consumo de carnes e leguminosas. A ingestão de zinco estava no limite de adequação para os adolescentes que relataram menor consumo de carne vermelha. Todos os adolescentes apresentaram consumo de vitamina E inadequado (40% de inadequação), quando comparado aos valores de referência. A elevada freqüência de adolescentes com ingestão inferior ao requerimento médio estimado para vitamina E poderia ser, em parte, explicada pelo sub-relato de óleos e gorduras adicionados às preparações.

               O exercício físico regular exerce alteração na homeostase de diferentes micronutrientes. O zinco é um elemento traço que participa de mais de 300 enzimas, além disso, é considerado um importante antioxidante, por manter a estabilidade das membranas celulares e compor metaloproteínas antioxidantes. O cobre desempenha várias funções importantes ligadas ao exercício, entre elas destacam-se sua participação no metabolismo energético, como sítio ativo da ceruloplasmina e da síntese de hemoglobina e mioglobina. O a-tocoferol é um dos isômeros que compõem a vitamina E. Resultados de estudos com a-tocoferol em atletas são conflitantes, mas é reconhecido que este micronutriente é imprescindível para manutenção da capacidade antioxidante, pois constitui um potente seqüestrador de radicais peroxila, e protege as cadeias de ácidos graxos insaturados dos fosfolipídios, componentes de membranas biológicas e os das lipoproteínas plasmáticas.

               Os adolescentes deste estudo apresentaram níveis de zinco plasmático (>11,5µmol/L) adequados, porém os corredores apresentaram maior concentração plasmática deste mineral. Este resultado pode estar relacionado com a maior ocorrência de micro-lesões musculares associadas ao impacto e explosão característicos da corrida, induzindo assim maior liberação de zinco do tecido muscular, que sofreu injúria, para o plasma. Semelhantemente a estes resultados, Fogelholm et al. encontraram maior concentração de zinco plasmático em atletas adolescentes de diferentes modalidades esportivas, quando comparados ao grupo controle.

               Para ambos os grupos de adolescentes, os níveis plasmáticos de cobre foram similares e adequados (>10µmol/L), sugerindo que a corrida não exerceu influência sobre a homeostase do cobre. Estes resultados foram semelhantes a estudos realizados com nadadores da mesma faixa etária.

               Não foram encontrados estudos sobre a concentração plasmática de a-tocoferol em adolescentes fisicamente ativos. Neste estudo, não foi observada diferença significante entre os níveis de a-tocoferol plasmático nos grupos estudados, porém 52% de todos os adolescentes apresentaram valores inferiores àquele considerado adequado (12µmol/L). Apesar de não encontrar relação estatística, possivelmente, em função do tamanho amostral, este resultado pode ser devido à reduzida ingestão de vitamina E observada em todos os adolescentes.

[...]

CONCLUSÃO
 
                Em conclusão, avaliando estes resultados em conjunto, constata-se que, possivelmente, a reduzida ingestão de vitamina E afetou os níveis plasmáticos dessa vitamina em ambos os grupos de adolescentes, tornando-se importante o acompanhamento nutricional para evitar que a ingestão inadequada atinja o delicado equilíbrio desse nutriente. A modalidade esportiva estudada (corrida de curta distância) não exerceu influência sobre os indicadores bioquímicos e de capacidade antioxidante nos adolescentes avaliados, provavelmente, por não ser realizada com intensidade e/ou duração que promova alterações oxidativas maiores do que as do próprio crescimento típico da adolescência. No entanto, a prática desta modalidade esportiva favorece a composição corporal mais adequada em adolescentes, visto que a mesma se associou a uma menor dobra cutânea abdominal, reconhecida como prejudicial à saúde.

Para referências e artigo na íntegra acesse: 

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