Alguns aspectos
na vida são indispensáveis: entre os microscópicos temos o carbono, o
hidrogênio, o oxigênio, que constituem os aspectos macroscópicos como o ar que
respiramos, os alimentos que nos fornecem substratos necessários para nossas
funções e, claro, o líquido de maior importância e abundância, a água!
Importante a quaisquer indivíduos, a água representa aspectos mais especiais
ainda quando o assunto é o praticante de atividades físicas. Se fôssemos parar
para citar todas as funções que é de cunho desse composto químico escreveríamos
um livro e não terminaríamos o assunto, portanto deixemos um pouco mais de lado
muitas explicações e vamos ao que é de nosso interesse: a importância da
hidratação na atividade física. Logo aos primeiros estágios de uma formação
celular podemos observar a necessidade à qual o mineral mais importante à vida
representa e é justamente através desse composto, formado por duas moléculas de
hidrogênio e uma de oxigênio, que a vida torna-se possível e, mais do que isso, que possa ter sua devida continuidade.
Até que ponto a água pode sair de aspectos que relacionam apenas a saúde normal de um indivíduo e poder até mesmo passar a ser um “nutriente ergogênico” quando utilizado estrategicamente? Representando tamanha importância sabemos que somos constituídos quase em nosso todo por, basicamente, água e proteínas, mas em especial água (cerca de 69 % da célula é água). Essa informação já seria o suficiente para dizer que é impossível que possamos existir a níveis desidratados, na ausência ou na presença inadequada de água. Entre inúmeras e não possíveis de serem citadas funções que ela possui, podemos destacar a possibilidade do acontecimento de reações químicas (que normalmente acontecem em meio aquoso e/ou com liberação/perda de moléculas de água), o transporte de nutrientes diversos, a presença no sangue (indiscutivelmente o meio de transporte de nutrientes mais eficaz do corpo humano), o auxílio na eliminação de nutrientes e substâncias não desejadas pelo corpo, a lubrificação de estruturas como as articulações e, ainda, em não mais funções microscópicas, mas macroscópicas, a manutenção da temperatura corpórea, o balanço da pressão arterial, a formação de mucosas e outras substâncias entre outras tantas. A verdade é que absolutamente nenhum processo metabólico poderia existir sem água. Diante dessas informações a respeito da água e de sua abundância imaginemos então que se a água representa tantos aspectos relacionados com a vida e, vida essa de um indivíduo normal, a relevância que ela tem para indivíduos que possuem um grau de metabolização maior. Sim, falo exatamente do praticante de atividades físicas, do esportista e do atleta.
Entre todas as funções metabólicas normais, o praticante de atividades físicas deve ter uma atenção redobrada aos seus níveis hídricos. Isso porque enquanto a maioria das pessoas apenas segue seu instinto e assim já consegue viver tranquilamente mantendo-se devidamente hidratado, o praticante de atividades físicas requer maiores quantidades de água (e muitas vezes em momentos mais específicos) para exercer duas boas funções aos níveis adequados às quais possam atender as necessidades do seu corpo. Isso é, além de sua saúde e sua vida, seu desempenho requer uma hidratação adequada. Entre os principais benefícios que a hidratação adequada promove podemos destacar uma melhor distribuição de micro e macro nutrientes pelo o corpo, um melhor fluxo sanguíneo, uma melhor eliminação de toxinas (em especial ao praticante de musculação que normalmente possui uma ingestão proteica relativamente mais alta e acaba naturalmente possuindo metabólicos tóxicos, tais quais os derivados da amônia em seu organismo), uma ressíntese de glicogênio otimizada, um pH sanguíneo adequado, um controle da temperatura corpórea e da pressão arterial, uma melhor lubrificação de estruturas as quais dependemos muito como nossas cápsulas articulares. Níveis inadequados de hidratação podem prejudicar o rendimento do praticante de atividades físicas, tornando-se muitas vezes um belo platô; o indivíduo pensa que está se nutrindo corretamente, que está descansando e treinando corretamente (e de fato está), mas, sem perceber, negligencia sua maior necessidade por tal.
O praticante de atividades físicas ainda, e principalmente durante a atividade física, perde quantidades significativas de água na medida em que, com o suor, mantém um pouco mais estável sua temperatura corpórea, a degradação e ressínteses de compostos químicos do corpo perdem e necessitam de água, a utilização de eletrólitos é maior, a necessidade de um fluxo sanguíneo também é maior. Reduzindo 2% do seu peso corpóreo, causando assim uma diminuição sanguínea, já se torna possível uma sobrecarga cardiovascular na medida em que será necessário um trabalho muito maior do coração para bombear nutrientes (inclusive oxigênio) aos inúmeros tecidos corpóreos. Entre as causas mais comuns de desidratação ao praticante de atividades físicas podemos destacar o consumo inadequado de líquidos (principalmente quando se bebe água apenas ao sentir sede), o suor excessivo e a exposição a longos períodos em altas ou superiores temperaturas as quais o corpo se mantém estável, o exercício físico praticado em altitudes elevadas, uma reidratação inadequada após o exercício físico (prejudicando a próxima sessão de treinos ou desempenho físico). Entretanto esse problema pode ser facilmente sanado se antes bem prevenido. Existem muitos e muitos protocolos de hidratação e reidratação, os quais podemos nos basear de acordo com o que nos é melhor aplicável e, obviamente, viável. Devemos consolidar protocolos que possam atender sim nossas necessidades, mas, além disso, que possam ser seguidas por nós, escolhendo não só como nos hidratar, considerando com o que nos hidratar.
Hidratação é sinônimo de água?
Entre muito que falamos, devemos admitir que o maior enfoque tenha sido a água e, de fato a água é de extrema importância para uma hidratação adequada. Para a maioria dos indivíduos e até mesmo para esportistas a moderado nível de
intensidade, apenas água já é mais do que suficiente para garantir um balanço
hidroeletrolítico adequado. Entretanto, a água não é o único nutriente
(fator) a ser levado em consideração: Devemos nos atentar também aos
eletrólitos, tais quais o sódio, o potássio, o magnésio, o cloreto, o cálcio e
outros tantos que, por sua vez, são fundamentais para garantir esse equilíbrio
todo. Além de auxiliarem a “manter a água no corpo”, estes são fundamentais em
processos fisiobiológicos como a contração muscular (tanto esquelética, quanto
lisa), a metabolização de nutrientes, o equilíbrio do pH e etc. Entretanto, nem
sempre é necessário que esses sejam consumidos por meio de bebidas especiais e
outros. Consumir quantidades adequadas desses minerais na alimentação já pode
ser tido como um protocolo eficaz.
Isotônicos,
hipertônicos e bebidas repositoras energéticas
Se há algo que gera muitas dúvidas, esse é o assunto referente a
isotônicos e hipertônicos. Primeiramente, para que entendamos se há ou não
necessidade destes, devemos entender a diferença entre eles.
A) Isotônicos são bebidas de concentração de eletrólitos iguais ao corpo
humano e osmolaridade também. Estes, normalmente são utilizados quando há
pequena perda de eletrólitos, havendo necessidade de reposição em pequenas
quantidades. B) Hipertônicos são bebidas de concentração e/ou
osmolaridade maior do que as encontradas no corpo. Normalmente estes são
utilizados em grandes perdas de eletrólitos. C) As bebidas repositoras
podem ser de concentração isotônica de eletrólitos, porém fornecem energia
(normalmente de carboidratos de fácil assimilação ao organismo) ou, de concentração
hipertônica, fornecendo energia das mesmas qualidades de
carboidratos. Essas bebidas fornecem em torno de 60 a 100 Kcal por porção.
O custo desse tipo de suplemento é relativamente caro, visto que, se
fizermos alguns cálculos que não vem ao caso, conseguiremos a criação através
da mistura de compostos como a maltodextrina e mais alguns eletrólitos de um
protocolo próprio muito mais barato. Uma pesquisa recentemente lançada no
JISSN relata que a água de coco pode ser muito mais eficaz do que bebidas
repositoras, sendo também uma opção mais barata e natural por não possuir
conservantes, corantes e outros compostos industriais. Bebidas dessa
natureza normalmente são utilizadas em atividades superiores a 1 h ou em
exceções, onde há uma alta necessidade de reposição pelos fatores já citados.
Para praticantes de musculação não há necessidade (salvo sob
recomendações específicas nutricionais/médicas) da utilização dessas bebidas,
sendo a água ou até a água de coco suficiente.
O uso do Glicerol
Entre inúmeros suplementos e compostos que são usados para uma melhor
hidratação está o glicerol, uma molécula normalmente presente no
Triacilglicerol, que conhecemos como TG. Essa molécula, quando sozinha, pode
apresentar alguns efeitos como relativa melhora no controle da temperatura
corpórea, melhor retenção de eletrólitos, melhor manutenção da água corpórea e
melhora na absorção de alguns nutrientes. Porém, desconsidere o
glicerol por dois aspectos fundamentais: ele não apresentará ergogênese ao
praticante de musculação e o mesmo necessita de recomendações muito
específicas, sendo muito fácil cometer erros e erros ao utilizá-lo.
Protocolos de
hidratação
A hidratação não deve ser feita apenas antes e durante o treinamento.
Após o treinamento manter um protocolo de hidratação é mais do que fundamental
para as inúmeras funções metabólicas do corpo, reposição hídrica e no
auxílio da recuperação muscular. A cada 500 g de peso corpóreo eliminado na
atividade física (normalmente por desidratação) deve-se consumir 600 a 700 ml
de água e cerca de 4:1 g de carboidratos para proteínas nas 2 primeiras
horas. De fato não só nestes momentos cruciais, mas durante toda a
recuperação (e preparação para uma próxima sessão de atividades físicas),
manter-se devidamente hidratado e nutrido é essencial. Lembre-se que o corpo é
sistêmico e além disso o que fazemos hoje não necessariamente refletirá no
hoje, mas no decorrer da persistência por erros.
Apesar de haver inúmeros protocolos, devemos individualizar nossos
protocolos, sendo algo bastante específico para cada indivíduo. Mais do
que isso, é sempre válido que possamos testar como nosso organismo se comporta
diante a diferentes protocolos aderidos, fazendo da individualidade biológica
algo bastante relevante sempre! É importante lembrar: dificilmente alguém
passará apuros por uma super-hidratação (a base de água, claro), mas sua falta
será sempre prejudicial. Procure sempre orientação nutricional/médica,
avaliando suas condições e propondo recomendações ideais. Muito mais fácil e
segura, essa maneira de conduzir a manipulação da hidratação a nosso favor só
terá a acrescentar benefícios.
MARCELO SENDON RISDEN
CREF: 069448-G-SP
Originalmente publicado em "Dicas de Musculação" .
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