Recomendações de leitura:

terça-feira, 25 de junho de 2013

Lesões tendíneas

               Vamos falar sobre as lesões tendíneas rapidamente e aproveitar para discutir um pouco sobre métodos de treinamento e possíveis relações entre estes e lesões diversas, já que é razoavelmente comum observarmos lesões de tecidos moles em atletas, sejam por traumas sofridos durante os esportes, sejam por uso excessivo dessas estruturas sem dar o devido tempo ou substrato de reparação.

Vamos falar, portanto, de doenças por tração:

               Leadbetter modificou uma proposição do ciclo vicioso que gerava as doenças por tração em 1992 e que começava a sugerir uma diferença entre tendinite e tendinose. Sim, de fato são diferentes e esta diferença não é mera apologia aos detalhes como alguns assuntos na medicina. Segundo Leadbetter, tudo se inicia com uma hipersolicitação do tendão, que é seguida de uma reparação inadequada que acaba gerando morte dos tenócitos (células que colocam matriz colágena no tendão), o que leva a menos deposição de colágeno nos tendões (progredindo o enfraquecimento mecânico) que predispões a novas lesões. Neste ponto então o estímulo inicial, que já era excessivo, torna-se mais intenso e mais incoerente, progredindo com o ciclo que irá gerar uma lesão se não for interrompido.

               Já em 1997, Kannus relacionou determinados fatores extrínsecos às lesões tendinosas por sobreuso, que segundo este autor são a exposição do corpo a cargas excessivas, erros de treinamento, condições ambientais, equipamento e regras desportivas ineficazes. É interessante perceber que todas as regras se aplicam a todo esportista que não tem sua rotina de exercícios devidamente prescrita e supervisionada, onde podemos traduzir para a nossa rotina de sala de pesos, na mesma sequência que apontamos anteriormente segundo o autor, como excessos de carga por não obedecer a uma técnica precisa de treinamento e falta de orientação ou orientação deficiente, falta de correção na postura de execução dos exercícios, falta de equipamento adequado ou adequadamente manutenido ou de boa qualidade e finalmente, falta de adequação entre o objetivo do aluno e sua capacidade de regeneração e preparo profissional do treinador/orientador para reconhecer e adaptar o método de treino mais adequado àquele.

               Então, no ano de 2000, Bonnar, num trabalho de Khan e colegas, classificou as tendinopatias de acordo com as alterações histopatológicas que estas apresentavam e obtivemos o seguinte quadro:

- tendinose: degeneração tendinosa relacionada a microtraumas ou alterações vasculares persistentes, cuja histologia mostra degeneração do colágeno intratendinoso não inflamatório, com degeneração das fibras, hipocelularidade, necrose local ou calcificações.

- tendinite: degeneração sintomática aguda de um tendão com interrupção vascular e resposta a uma reparação inflamatória, caracterizada por alterações degenerativas provocadas por rupturas sobrepostas, incluindo as proliferações de fibroblastos e miofibroblastos, hemorragia e tecido granulado organizado.

- paratendinose: inflamação do paratendão (tecido delgado responsável pela proteção e nutrição do tendão), caracterizado por presença de células inflamatórias no paratendão ou no tecido areolar peritendinoso.

- paratendinose com tendinose: inflamação do paratendão associado à degeneração intratendinosa, caracterizada por degeneração mucóide no tecido peritendinoso, com perda de colágeno, desorientação das fibras e inflamação intratendinosa.

E como tratar?

               Cook e Khan em 2000 sugerem que o tratamento inicial deve ser conservador ou baseado na alteração histopatológica em vez do sintoma: tratar uma tendinopatia com base numa inflamação vs tratar uma tendinopatia com base numa degeneração, tendo como prioridade a diminuição da dor, mas associada à manutenção da função. Para tal o tratamento pode chegar a ser cirúrgico, mas devemos lembrar que o bom senso manda sempre tentarmos o tratamento fisioterápico em um primeiro momento, e este pode associar repouso e redução de carga, crioterapia, massagem transversal profunda, exercícios de fortalecimento excêntrico, imobilizações funcionais, eletroterapia e ondas de choque.

E como tudo isso interfere na minha rotina de exercícios?

               Existem técnicas de treinamento bem definidas que causam fadiga cada uma a sua maneira própria. Uma das técnicas que gostamos de sugerir em ordem de preservar o paciente/esportista em relação a tendinopatias, além dos fatores extrínsecos relacionados ao acompanhamento esportivo, é um estilo de treinamento onde a fadiga é causada por hipersolicitação mecânica por número máximo de repetições, um estilo de treinamento batizado de Heavy Duty por seu criador, Mike Mentzer, tendo por base o HIT training de Arthur Jones, ainda na Nautilus Gym na decada de 60. Como não há hipersolicitação em termos de carga, duas coisas acontecem: não ocorrem (ou ocorrem num grau aceitável) as microlesões tendinosas por excesso de carga, e que possibilitam ainda uma execução mais adequada do movimento devido a carga menor e ainda, possivelmente há menos diminuição da resposta inibitória da ação protetora do OTG nos tendões (que fazem com que o músculo relaxe de forma reflexa ao se deparar com uma carga que é potencialmente lesiva ao tendão - um reflexo neurológico de proteção que é perdido progressivamente nos treinamentos onde força e explosão são estimulados).

               [...] Nesse momento é importante uma dieta adequada e nada de restrições! Tudo o que pode ameaçar a manutenção de um equilíbrio nitrogenado positivo no organismo (ou trocando em miúdos, consumir menos do que necessitar) é péssimo para qualquer esportista, quem dirá para um esportista em vigência de uma lesão... Cuidado com a alimentação, até mesmo porque essa falta relativa de proteína à disposição de síntese proteica indispensável estimulada pelo treinamento pode ser uma fator predisponente ao início ou manutenção de uma lesão.

PAULO CAVALCANTE MUZY
Médico pela Escola Paulista de Medicina/Unifesp
Especialista em Fisiologia do Exercício pelo CEFE/Unifesp
Especialista em Artroscopia e Traumatologia do Exercício pela PUC Campinas 
CRM-SP: 115.573

Originalmente publicado no blog "superperformance".

Nenhum comentário:

Postar um comentário