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sexta-feira, 5 de julho de 2013

Cigarro e desempenho

                Como médico meu dever é combater o hábito de fumar, mas de fato, como é um hábito, seria muita abelhudisse se eu decidisse por você as atividades da sua vida sem lhe dar explicações. Hoje estamos na época de ouro dos vasodilatadores, uma evolução dos pré-workouts comuns que continham toneladas de estimulantes que no final das contas acabavam por anular ou diminuir em grande parte a ação dos "vasodilatadores". Os vasodilatadores não causam os efeitos ergogênicos dos estimulantes, mas pelo menos fazem com que o que você treina de fato vire algum resultado. Para o físico eles são interessantes porque fazem um trabalho completo no seu tecido locomotor: aumentam o recrutamento vascular periférico favorecendo tanto o "pump" que já falamos quanto a oxigenação, nutrição e escoamento de metabólitos resultantes da contração muscular - trabalhando assim como pré e pós-workouts!

               A nicotina, substância principal da composição do cigarro, tem um comportamento bifásico, que é comum a substâncias viciantes, isto porque no cérebro ela ativa receptores dopaminérgicos que estão presente nos núcleos do prazer e saciedade (os mesmos atingidos pela cocaína por exemplo) causando relaxamento. Também porque ativa receptores nicotínicos que normalmente são ativados por acetilcolina e liberam noradrenalina; há algumas pesquisas que falam que o cigarro melhoraria a memória por ativação de recepctores de glutamato - fato que acreditamos ser só teórico porque o monóxido de carbono presente no cigarro diminui a vascularização cerebral antagonizando tal efeito.

               Contendo dois vasoconstrituores potentes, o CO (monóxido de carbono) e a nicotina, o fumo acaba servindo como antagonista de todos os efeitos que desejamos quando utilizamos vasodilatadores e, claro, caso você treine sem essa ajuda ergogênica, imagine os efeito contrário que o você acaba tendo pelo hábito do cigarro. Do ponto de vista do centro dopaminérgico atingido, ir praticar atividades físicas depois de ter fumado é experimentar falta de endurance, força, resistência e capacidade de resistir à fadiga.

               Portanto fumar depois de praticar atividades físicas ou antes de praticá-las é como se transformássemos o treinamento em esforço e desta forma a piora da capacidade física e por consequência a perda de resultados é uma mera questão de tempo.

               Como disse, não me atrevo a dizer a você o que você tem de fazer ou deixar de fazer, mas é minha função lhe dar conhecimento para ponderar. É evidente que gostaríamos de um mundo livre de cigarro, mas não acredito que atitudes que ataquem a liberdade do índivíduo de forma arbitrária sejam a melhor forma de convencê-lo a deixar um hábito - boa parte das vezes a gentileza do processo informativo trabalham mais eficientemente.



PAULO CAVALCANTE MUZY
Médico pela Escola Paulista de Medicina/Unifesp
Especialista em Fisiologia do Exercício pelo CEFE/Unifesp
Especialista em Artroscopia e Traumatologia do Exercício pela PUC Campinas 
CRM-SP: 115.573

Originalmente publicado no blog "superperformance".

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