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quinta-feira, 30 de maio de 2013

Lesões da coluna lombar em atletas jovens

LESÕES DA COLUNA LOMBAR NO JOVEM ATLETA
Divisão de Medicina Esportiva do Hospital Pediátrico de Boston
Revista Brasileira de Medicina do Esporte

Lyle J. Micheli, Gillian Allison

INTRODUÇÃO
 
               Lesões na coluna lombar têm sido observadas no jovem atleta e atualmente estão aumentando em freqüência nas clínicas esportivas. Lesão e dor recorrente nas costas podem limitar drasticamente a capacidade do atleta de participar em sua modalidade. Enquanto a anatomia relativamente normal da coluna possa permitir amplitude aumentada antes que o dano de estrutura ocorra, a dor nas costas ainda é relativamente comum. São exemplos a dança, a ginástica e a patinação artística. Sward et al. observaram que, de 142 atletas de elite na Suécia, a incidência de dor lombar variou de 5 a 85%, dependendo do esporte.

               Anteriormente, a coluna lombar tem cinco corpos vertebrais ligados pelos discos intervertebrais. O canal neural fica centralmente, contendo nervos periféricos com revestimento dural. Dorsalmente, estão localizados os elementos posteriores da espinha: as facetas, os processos transversos, os processos articulares e os pedículos. A lordose lombar normal é de 45 a 50 graus. Alinhamentos estruturais anormais, como hiperlordose da espinha lombar ou "coluna estruturalmente plana", podem ser fatores para provocar dor lombar.

               Lesões da coluna lombar geralmente resultam de dois padrões de geração de força: evento único, macrotrauma agudo ou microtraumas repetitivos com o resultado de lesões de overuse. Lesões de overuse são vistas, mais comumente, nos elementos ósseos posteriores, particularmente nos processos articulares. Alguns pesquisadores têm sugerido que são a flexão e a extensão repetitiva que levam à concentração de estresse nessa região, já que este é o local da rotação da espinha durante a flexão e extensão.

               Uma série de estudos recentes tem empregado a imagem por ressonância magnética (RM) para demonstrar mudanças na coluna causadas por microtraumas repetitivos. Sward et al., em recente estudo, compararam 24 ginastas masculinos de elite com 16 homens não atletas de idades semelhantes. Através da RM, os autores encontraram evidência de aumento significativo de degeneração de disco nos atletas (75%) em comparação com os não atletas (31%). Os ginastas tinham também maior incidência de outras anormalidades na coluna toracolombar. Em estudo similar, Goldstein et al. sugeriram que ginastas que treinam mais que 15 horas por semana mostram aumento significativo da incidência de alterações degenerativas na coluna lombar.

               O padrão das lesões lombares é completamente diferente no atleta idoso, no qual a coluna já passou pela degeneração segmentar relacionada com a idade. A lesão é mais comumente iniciada nos elementos da parte anterior do disco, ocasionando dor discogênica e ciática. O crescimento excessivo do osso nas facetas pode comprometer os recessos laterais ou o forame intervertebral, resultando em compressão do nervo espinhal. Uma mínima torção ou lesão pode resultar em lesão do nervo espinhal ou irritação associada com inchaço e dor.

DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL

               Existem quatro categorias principais de dor na coluna lombar observadas em jovens atletas: mecânica, discogênica, espondilolítica e fratura do corpo vertebral. A dor mecânica da coluna é a etiologia mais freqüente, sendo usualmente um diagnóstico de exclusão no jovem atleta, uma vez que o exame físico tenha descartado espondilólise, doença de disco ou fratura. A dor pode resultar de estimulação anormal do nervo na faceta.

               Fatores mecânicos e músculo-esqueléticos, como lordose postural e tensão excessiva da musculatura extensora ou fraqueza dos abdominais, podem ser fatores de risco para essa etiologia. A postura hiperlordótica é usualmente vista em bailarinas e ginastas. Em muitas dessas atletas, a hiperlordose é geralmente postura adquirida e potencialmente reversível com exercícios terapêuticos adequados. As únicas queixas podem ser coluna dolorida associada com posição prolongada de pé ou sentada, ou após atividades de treinamento esportivo. Técnicas de diagnóstico como radiografias simples e cintilografias são normais.

[...]

PREVENÇÃO

               Atletas e treinadores esportivos que têm risco aumentado de lesão da coluna lombar devem ser educados com técnicas preventivas. O atleta com dor nas costas deve logo procurar avaliação médica, para prevenir a progressão de uma lesão mais grave.

               Lesão por microtrauma repetitivo na coluna lombar tem sido implicada tanto em esportes de contato ou sem contato, incluindo ginástica, balé, patinação artística, hóquei, futebol americano, levantamento de peso, luta greco-romana e remo.Ferguson et al. descreveram incidência de 48% de dor nas costas em 25 atacantes de futebol americano, enquanto Jackson revelou em seu levantamento que 30% de 100 mulheres ginastas competitivas tinham problemas relacionados com a coluna lombar. Variáveis independentes que contribuem individualmente ou em combinação para a lesão da coluna lombar incluem a má técnica, mau condicionamento e anormalidades anatômicas.

               A má técnica está refletida em aquecimento insuficiente e na supervisão técnica inadequada. Em ginastas, o rápido avanço para as técnicas difíceis sem atenção adequada à força e à flexibilidade pode causar a lesão. Goldberg relatou baixos níveis de força abdominal em ginastas jovens e recomendou exercícios complementares de reforço abdominal.

[...]

PROGRAMAS DE REABILITAÇÃO

               Retorno progressivo à atividade é o objetivo geral de qualquer programa de reabilitação. Para o atleta com dor lombar baixa, um programa de exercícios de reforço abdominal e pélvico é de grande importância. Existem dois grupos importantes: os exercícios de flexão de Williams são designados para diminuir a lordose lombar e aumentar a flexibilidade, enquanto os exercícios de extensão de McKenzie podem ajudar a centralizar e diminuir a dor pelo restabelecimento tanto da amplitude de movimento como fortalecimento da lombar baixa, resultando em estabilização das estruturas de apoio da coluna lombar. Nervos periféricos não mais serão irritados ou comprimidos, fatores que freqüentemente resultam em estimulação e dor secundária. Medicações como analgésicos, antiinflamatórios e relaxantes musculares podem ser usados inicialmente, mas eles desempenham um papel secundário nessa faixa etária.

               O uso precoce de um programa de natação para a lesão de coluna lombar é geralmente bem tolerado e pode ser realizado de maneira funcional e isenta de dor. Isso é útil na sincronização da musculatura lombar e pélvica. Treinamento de força com equipamentos e pesos livres pode ser incluído em estágios mais avançados.

               Na reabilitação de qualquer atleta, o treinamento com atividades de progressão lenta desenvolvidas de modo sem dor é importante se o corpo está para retomar a plena função. No caso de um bailarino, deve-se, em qualquer escola, iniciar com exercícios de barra no chão ou na água, avançando mais tardiamente para o salto.

               O colete de Boston desenvolveu-se nos anos 70 como tratamento para as deformidades da coluna em crianças e adolescentes. Uma vez que um componente antilordótico foi adicionado ao colete, ele foi usado para tratar crianças com hiperlordose patológica. Os novos e modificados coletes termoplásticos abrem-se anteriormente e são feitos em vários tamanhos e contornos de 0º, 15º e 30º de lordose lombar. O colete é desenhado para aplanar e apoiar a coluna, diminuindo a tensão na coluna lombossacra e aumentando a pressão abdominal. Verificou-se que o posicionamento antilordótico da coluna no colete se mantinha após o uso; então, levantou-se a hipótese de que o colete coloca a coluna em posição fisiologicamente melhor para funções subseqüentes.

               Estudos clínicos têm confirmado a efetividade do colete de Boston no manejo de várias etiologias de dor lombar baixa. O uso de colete em atletas jovens com espondilólise e graus I a II de espondilolistese tem sido particularmente bem sucedido. Se detectado precocemente, o colete pode promover a cura do defeito do processo articular. Contudo, mulheres parecem ter prognóstico relativamente pior na cura quando comparadas com os homens. Mesmo que a cura óssea completa não ocorra, o paciente pode ficar assintomático com melhora da amplitude de movimento após a terapia física e imobilização. O colete pode recolocar a coluna, melhorando a pars dolorosa mais vertebral e diminuindo o estresse do elemento posterior.

               O colete é inicialmente usado por 23 das 24 horas nos primeiros seis meses em conjunto com um regime fisioterápico de exercícios antilordóticos e de flexibilidade para a extremidade baixa. Gradualmente, o colete é retirado do paciente nos próximos três a seis meses. Atividades esportivas, como futebol, ginástica e hóquei, podem ser reiniciadas depois de três a quatro semanas do uso de colete, uma vez que o paciente esteja assintomático. Em pacientes com doença de disco, pode-se empregar um colete termoplástico a 15º da lordose para ajudar a cura e restauração da função.


quarta-feira, 29 de maio de 2013

Micronutrientes e capacidade antioxidante em adolescentes


MICRONUTRIENTES E CAPACIDADE ANTIOXIDANTE EM ADOLESCENTES SEDENTÁRIOS E CORREDORES
Revista de Nutrição da Puc-Campinas

Karla de Jesus Fernandes de Oliveira, Josely Correa Koury, Carmen Marino Donangelo

RESUMO

               Objetivo: Este estudo objetivou comparar a composição corporal, a ingestão dietética, os índices bioquímicos de micronutrientes antioxidantes e a capacidade antioxidante em adolescentes sedentários (n=15) e corredores (n=18), pós-púberes.

               Métodos: A composição corporal foi aferida por meio das dobras cutâneas, massa corporal total e estatura; a ingestão de micronutrientes foi determinada através de freqüência de consumo alimentar e os indicadores bioquímicos por coleta de sangue em jejum. Em sangue total foram determinados hematócrito e hemoglobina; em plasma, testosterona, a-tocoferol, cobre, zinco, e ceruloplasmina; em eritrócitos, fragilidade osmótica, zinco, Cu-Zn superóxido dismutase e metalotioneína.


               Resultados: A capacidade antioxidante, a ingestão dietética e a composição corporal foram similares, exceto o somatório de dobras cutâneas, que foi menor nos corredores (p<0,05). Somente a ingestão de vitamina E foi inferior às recomendações nutricionais. Não houve diferença entre os grupos para a concentração plasmática de a-tocoferol, que se apresentou, em média, abaixo do valor de referência. Os níveis plasmáticos de cobre e zinco foram, em média, adequados, sendo os níveis de cobre similares entre os dois grupos e os de zinco maiores nos corredores. Nos sedentários a fragilidade osmótica dos eritrócitos relacionou-se com a metalotioneína (r= -0,50;p<0,05) e com Cu-Zn superóxido dismutase (r= -0,50; p<0,005); nos corredores, houve relação entre Cu-Zn superóxido dismutase e zinco nos erirócitos (r=0,49; p<0,005).


               Conclusão: Os resultados sugerem que a modalidade estudada - corrida - não alterou a capacidade antioxidante além do próprio crescimento. No entanto, a prática regular de exercício favorece uma composição corporal mais adequada para os adolescentes. Há necessidade de maior atenção quanto ao estado nutricional de a-tocoferol em adolescentes.


Termos de indexação: Adolescente. Cobre. Composição corporal. Exercício. Zinco.

INTRODUÇÃO

               A adolescência é marcada por mudanças hormonais que resultam na maturidade biológica e em alterações da composição corporal. Dentro da variabilidade normal, no período da puberdade, adolescentes da mesma idade podem ser classificados em pré-púberes, púberes ou pós-púberes. A maturação e as fases de crescimento são determinantes das necessidades nutricionais em cada momento da adolescência. A demanda nutricional é ainda maior quando a adolescência é associada à prática esportiva, em conseqüência das adaptações fisiológicas que ocorrem no organismo do atleta, tais como hipertrofia das fibras musculares, aumento da síntese de tecido conjuntivo, aumento da capacidade cardiovascular e incremento do conteúdo mineral ósseo, entre outras.

               A prática de atividade física regular acarreta aumento do consumo de oxigênio, tendo como conseqüência o incremento da produção de espécies reativas de oxigênio. Essas espécies, altamente instáveis, têm como alvos principais componentes celulares como proteínas, enzimas, lipídeos, ácido desoxirribonucléico (DNA) e ácido ribonucléico (RNA), e sua ação ocasiona lesões na célula, alterando sua integridade e, conseqüentemente, sua funcionalidade. Apesar de favorecer o processo oxidativo, a atividade física também estimula a capacidade antioxidante.

               Os antioxidantes de defesa celular neutralizam a proliferação ou protegem a membrana celular da ação lesiva das espécies reativas de oxigênio, podendo ser intra ou extracelulares, enzimáticos ou não enzimáticos. Vários nutrientes da dieta são importantes para o adequado funcionamento dos sistemas antioxidantes. Entre eles destacam-se o a-tocoferol, protetor de membranas celulares, e os minerais zinco e cobre, componentes de metaloproteínas, tais como superóxido dismutase, ceruloplasmina e metalotioneína.

               A maior parte das pesquisas feitas na área de nutrição esportiva e capacidade antioxidante tem sido realizada em adultos. A resposta da capacidade antioxidante ao exercício em adolescentes, apesar de ser, possivelmente, semelhante em termos qualitativos à do adulto, poderia também ser influenciada pelo rápido crescimento e desenvolvimento próprios da adolescência.

               Não foram encontrados estudos que relacionassem níveis de micronutrientes e capacidade antioxidante em adolescentes fisicamente ativos. Este estudo objetivou comparar a composição corporal, a ingestão dietética, os índices bioquímicos de micronutrientes antioxidantes (a-tocoferol, zinco e cobre) e a capacidade antioxidante plasmática (ceruloplasmina) e eritrocítica (Cu-Zn superóxido dismutase, metalotioneína, zinco) em dois grupos de adolescentes, sedentários e praticantes de corrida como atividade física regular.

MÉTODOS

               Foram estudados 33 adolescentes, sendo 15 sedentários - sem atividade física regular e intensa - e 18 praticantes de corrida (100-400m) - atividade física regular e intensa -, do gênero masculino, com idades entre 14 e 18 anos, saudáveis e sem uso recente de medicamentos e/ou suplementos nutricionais.

               Os corredores foram selecionados ao acaso, pela Federação de Atletismo do Rio de Janeiro (FARJ), entre aqueles que mais se destacaram em diferentes competições. Os próprios corredores indicaram os adolescentes sedentários entre seu círculo de convívio, fato que garantiu a homogeneidade dos grupos em relação ao hábito alimentar.

[...]

RESULTADOS

[...]

               Em geral, os adolescentes sedentários e corredores apresentaram composição corporal semelhante, embora o somatório das sete dobras cutâneas tenha sido maior nos sedentários. [...] A ingestão dos nutrientes nos grupos estudados foi semelhante. Quando comparados aos valores médios de necessidade estimados para esta faixa etária e gênero, 100% dos adolescentes apresentaram ingestão de vitamina E inferior, 73% ingeriam cobre acima e 55% consumiam zinco no limite do requerimento. A ingestão dietética não influenciou a composição corporal nem os indicadores bioquímicos avaliados. 

               O hematócrito e a concentração de hemoglobina no sangue foram, em média, adequados e similares (hemoglobina-sedentários 13,2, DP=1,5g/dL e corredores 13,8, DP=1,5; hematócrito- sedentários 45,3, DP=4,3% e corredores 47,1, DP=3,1%).Não foram encontradas diferenças significantes nos indicadores relacionados aos micronutrientes e a capacidade antioxidante. Somente o nível de zinco plasmático foi significantemente maior nos adolescentes corredores, quando comparado aos sedentários (p<0,05). A fragilidade osmótica dos eritrócitos foi semelhante entre os grupos, com coeficiente de variação de 30% para os atletas e 11% para os sedentários.

[...]

DISCUSSÃO

               Estudos descrevem que estados fisiológicos especiais, como a adolescência, apresentam aumento de danos oxidativos em sistemas biológicos, decorrentes do intenso crescimento tecidual e de alterações hormonais característicos desta fase. No caso de adolescentes atletas, a atividade física associada poderia favorecer o estímulo da capacidade antioxidante, bem como promover alterações favoráveis à composição corporal. Além disso, um adequado aporte de micronutrientes, tais como cobre, zinco e vitamina E é capaz de manter a homeostase influenciada pelo rápido crescimento e pela prática de atividade física intensa.

               A classificação dos adolescentes em pré-púberes, púberes ou pós-púberes, pode ser realizada a partir da concentração de hormônios sexuais. Cada fase do desenvolvimento pode acarretar diferentes respostas metabólicas, características em função das alterações hormonais.

               Neste estudo, a concentração plasmática de testosterona demonstrou que os adolescentes estavam no período pós-púbere. Possivelmente, por este motivo não foram encontradas correlações entre os níveis de testosterona e os indicadores estudados, sugerindo que nesta fase o decréscimo na velocidade do crescimento não interfere diretamente sobre os indicadores bioquímicos e antropométricos avaliados.

               A atividade física e o hábito alimentar são capazes de alterar a composição corporal. O grau de alteração gerada pelo exercício depende do tipo, da intensidade e da freqüência, além da forma de obtenção de energia (aeróbia ou anaeróbia). Atletas de modalidades basicamente aeróbias tendem a ter menor acúmulo de gordura corporal, devido à maior mobilização de ácidos graxos.

               Neste estudo, observou-se como um dos maiores sítios de depósito de gordura corporal a região abdominal, sendo esse acúmulo maior nos sedentários do que nos corredores, mostrando-se consistente com a mobilização do tecido adiposo decorrente da modalidade esportiva avaliada. O maior acúmulo de gordura na região abdominal, em indivíduos sedentários, pode indicar uma provável predisposição ao surgimento de doenças cardiovasculares, sendo importante a prática de atividade física regular por adolescentes na prevenção de futuras alterações cardiovasculares.

               A ingestão de micronutrientes por atletas vem sendo bastante estudada, apesar disso não foi encontrado nenhum estudo que relatasse a ingestão de vitamina E em atletas adolescentes. A ingestão de zinco e cobre tem sido avaliada em estudantes praticantes de atividade física regular, principalmente natação.

               No presente estudo, considerando todos os adolescentes, foi observado que a ingestão habitual de cobre encontrava-se elevada, quando comparada ao valor de referência, provavelmente, pelo elevado consumo de carnes e leguminosas. A ingestão de zinco estava no limite de adequação para os adolescentes que relataram menor consumo de carne vermelha. Todos os adolescentes apresentaram consumo de vitamina E inadequado (40% de inadequação), quando comparado aos valores de referência. A elevada freqüência de adolescentes com ingestão inferior ao requerimento médio estimado para vitamina E poderia ser, em parte, explicada pelo sub-relato de óleos e gorduras adicionados às preparações.

               O exercício físico regular exerce alteração na homeostase de diferentes micronutrientes. O zinco é um elemento traço que participa de mais de 300 enzimas, além disso, é considerado um importante antioxidante, por manter a estabilidade das membranas celulares e compor metaloproteínas antioxidantes. O cobre desempenha várias funções importantes ligadas ao exercício, entre elas destacam-se sua participação no metabolismo energético, como sítio ativo da ceruloplasmina e da síntese de hemoglobina e mioglobina. O a-tocoferol é um dos isômeros que compõem a vitamina E. Resultados de estudos com a-tocoferol em atletas são conflitantes, mas é reconhecido que este micronutriente é imprescindível para manutenção da capacidade antioxidante, pois constitui um potente seqüestrador de radicais peroxila, e protege as cadeias de ácidos graxos insaturados dos fosfolipídios, componentes de membranas biológicas e os das lipoproteínas plasmáticas.

               Os adolescentes deste estudo apresentaram níveis de zinco plasmático (>11,5µmol/L) adequados, porém os corredores apresentaram maior concentração plasmática deste mineral. Este resultado pode estar relacionado com a maior ocorrência de micro-lesões musculares associadas ao impacto e explosão característicos da corrida, induzindo assim maior liberação de zinco do tecido muscular, que sofreu injúria, para o plasma. Semelhantemente a estes resultados, Fogelholm et al. encontraram maior concentração de zinco plasmático em atletas adolescentes de diferentes modalidades esportivas, quando comparados ao grupo controle.

               Para ambos os grupos de adolescentes, os níveis plasmáticos de cobre foram similares e adequados (>10µmol/L), sugerindo que a corrida não exerceu influência sobre a homeostase do cobre. Estes resultados foram semelhantes a estudos realizados com nadadores da mesma faixa etária.

               Não foram encontrados estudos sobre a concentração plasmática de a-tocoferol em adolescentes fisicamente ativos. Neste estudo, não foi observada diferença significante entre os níveis de a-tocoferol plasmático nos grupos estudados, porém 52% de todos os adolescentes apresentaram valores inferiores àquele considerado adequado (12µmol/L). Apesar de não encontrar relação estatística, possivelmente, em função do tamanho amostral, este resultado pode ser devido à reduzida ingestão de vitamina E observada em todos os adolescentes.

[...]

CONCLUSÃO
 
                Em conclusão, avaliando estes resultados em conjunto, constata-se que, possivelmente, a reduzida ingestão de vitamina E afetou os níveis plasmáticos dessa vitamina em ambos os grupos de adolescentes, tornando-se importante o acompanhamento nutricional para evitar que a ingestão inadequada atinja o delicado equilíbrio desse nutriente. A modalidade esportiva estudada (corrida de curta distância) não exerceu influência sobre os indicadores bioquímicos e de capacidade antioxidante nos adolescentes avaliados, provavelmente, por não ser realizada com intensidade e/ou duração que promova alterações oxidativas maiores do que as do próprio crescimento típico da adolescência. No entanto, a prática desta modalidade esportiva favorece a composição corporal mais adequada em adolescentes, visto que a mesma se associou a uma menor dobra cutânea abdominal, reconhecida como prejudicial à saúde.

Para referências e artigo na íntegra acesse: 

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Dietas vegetarianas e desempenho esportivo


DIETAS VEGETARIANAS E DESEMPENHO ESPORTIVO
Revista de Nutricao da PUC-Campinas

Lucas Guimarães Ferreira, Roberto Carlos Burini, Adriano Fortes Maia

RESUMO

               As evidências atuais apontam benefícios da dieta vegetariana para a saúde humana. Contudo, a partir da adoção de práticas vegetarianas mais restritivas, confirmam-se os riscos à saúde. As dietas vegetarianas são caracterizadas pelo elevado consumo de carboidratos, fibras, magnésio, potássio, folato e antioxidantes, podendo apresentar deficiências em aminoácidos e ácidos graxos essenciais, cálcio, zinco, ferro e cobalamina. Pesquisas experimentais em humanos indicam que vegetarianos e não-vegetarianos apresentam capacidade aeróbica semelhante. Em relação ao desempenho em atividades de força e potência muscular, as pesquisas são escassas, mas as existentes não apontam diferenças significativas. Situações de risco cardiovascular têm sido confirmadas, devido ao provável quadro de hiperhomocisteinemia, em decorrência da baixa ingestão de cobalamina. As dietas vegetarianas são isentas de creatina, o que resulta em estoques musculares mais baixos nessa população. Possivelmente ocorrem alterações hormonais e metabólicas em resposta às dietas vegetarianas, como baixos níveis de testosterona e androstenediona. A função imune parece não ser prejudicada. Dessa forma, a prática de dietas vegetarianas apresenta-se compatível com a prática esportiva cotidiana, desde que bem planejada para evitar deficiências nutricionais. 

Termos de indexação: creatina; exercício; dieta vegetariana.

INTRODUÇÃO

               O vegetarianismo abrange ampla variedade de práticas dietéticas com diferentes implicações para a saúde. Assim, há diferentes definições e fundamentações das práticas vegetarianas, como, por exemplo: a dieta vegan, que não contém nenhum produto de origem animal; a lactoovovegetariana (LOV), que inclui produtos lácteos e ovos; e a semivegetariana, que ainda inclui pequenas quantidades ou consumo esporádico de determinados tipos de carne, como peixes e aves. As dietas não-vegetarianas, nas quais o consumo de carne é frequente, são denominadas dietas onívoras.

               A adoção de dieta vegetariana tem sido associada a diversos benefícios para a saúde da população humana, como baixas concentrações de lipídios séricos, baixos níveis de adiposidade corporal e baixa incidência de mortes por isquemia do miocárdio, diabetes mellitus e certos tipos de câncer, além de uma maior expectativa de vida. Entretanto, também tem sido objeto de preocupação, na medida em que novos estudos realçam possíveis aspectos prejudiciais à saúde com a prática do vegetarianismo. De acordo com a American Dietetic Association, dietas vegetarianas oferecem determinados benefícios nutricionais, como a baixa ingestão de gordura saturada e colesterol - ou mesmo a não elevação desses marcadores, quando observados em relação ao envelhecimento - a alta ingestão de carboidratos, fibras dietéticas, magnésio, potássio, folato, antioxidantes (como as vitaminas C e E) e fitoquímicos. Em contrapartida, Sabate cita que a dieta vegetariana desbalanceada ou restritiva, particularmente em situações de altas demandas metabólicas (como durante o exercício), pode provocar deficiências nutricionais.

               Algumas pesquisas experimentais foram realizadas no intuito de investigar a relação entre a dieta vegetariana e o desempenho esportivo. Discute-se se tal dieta pode afetar, positiva ou negativamente, o desempenho de atletas de resistência e força

               Para a realização deste artigo, foram coletadas todas as pesquisas disponíveis no banco de dados Medline, que tinham por objetivo verificar a influência das dietas vegetarianas sobre variáveis do desempenho atlético, como a capacidade aeróbica e de força muscular. No total, foram analisadas onze pesquisas experimentais publicadas em periódicos internacionais, disponíveis nesse banco de dados. Com base nos resultados encontrados, discutiram-se as necessidades e carências nutricionais dos atletas vegetarianos, assim como alterações fisiológicas em resposta à dieta e suas possíveis implicações no desempenho atlético. 

VEGETARIANISMO E DESEMPENHO
 
               Observaram-se, na literatura, diversos estudos avaliando a influência das dietas vegetarianas sobre o desempenho de esportes de endurance e força. [...]

               O volume de pesquisas que testaram a capacidade aeróbica é superior ao daquelas que testaram a força muscular dos vegetarianos. No experimento de Cotes et al., não foram encontradas diferenças na função pulmonar e na resposta cardiorrespiratória no exercício submáximo em ciclo-ergômetro, entre vegans e não-vegetarianos. Hanne et al. também não encontraram diferenças no desempenho de atletas israelenses de ambos os sexos. Diversas outras pesquisas encontraram resultados semelhantes.

               Campbell et al. não encontraram diferenças significativas na força muscular dinâmica entre grupos de homens vegetarianos e não-vegetarianos. Ambos os grupos demonstraram aumento similar na força, após 12 semanas de treinamento contra resistência. Esses resultados estão de acordo com os encontrados por Hanne et al., em pesquisa anterior. Dos dez estudos analisados, apenas um encontrou diferenças na capacidade aeróbica e em testes de potência. Crianças, adolescentes e adultos vegetarianos foram testados. Os adolescentes e adultos mostraram melhores resultados no teste cardiorrespiratório, mas os adolescentes obtiveram valores mais baixos nos testes de força e potência. Esse experimento não contou com grupo controle não-vegetariano, sendo os resultados comparados a valores de referência indicados por pesquisas anteriores. Talvez a falta de grupo controle possa ter ocasionado resultados divergentes dos demais estudos citados.

               Com base nesses resultados, conclui-se que a capacidade aeróbica não parece ser afetada pela adoção de uma dieta vegetariana, desde que esta atenda às necessidades nutricionais do atleta. Dessa forma, uma dieta vegetariana variada e balanceada parece compatível com o desempenho atlético vencedor em modalidades esportivas com predominância no sistema oxidativo. Com relação à força muscular são necessários maiores estudos, dada pouca produção científica que investigou essa questão.

NECESSIDADES NUTRICIONAIS

Energia

               De acordo com o posicionamento do American College of Sports Medicine (ACSM), a baixa ingestão energética pode resultar em perda de massa muscular, distúrbios no ciclo menstrual das atletas, perda de massa óssea e aumento do risco de desenvolverem fadiga e lesões. Ainda segundo o ACSM, a ingestão energética de atletas de endurance deve ser de 3000 a 5000 kcal/dia. Atletas de força usualmente necessitam, minimamente, de 50 kcal/kg/dia, que representa 3500 kcal/dia para um indivíduo de 70 kg. Segundo Williams, a deficiência energética não representa grande preocupação para os vegetarianos, mas é necessária atenção especial para que se alcance uma ingestão adequada de energia, caso contrário o desempenho pode ser prejudicado. 

            Na pesquisa de Eisinger et al., atletas lactoovovegetarianos e não-vegetarianos, consumindo uma dieta de 4500 kcal (60% advindas de carboidratos, 30% de proteínas e 10% de gorduras), não mostraram diferenças na performance em uma maratona. Isso confirma que, desde que as necessidades energéticas sejam alcançadas, independentemente do tipo de dieta, o rendimento não é afetado.

Macronutrientes
 
               Atletas de endurance necessitam de dieta rica em carboidratos para otimizar os estoques de glicogênio muscular e hepático. Para esses indivíduos, a ingestão diária de carboidratos deve ficar na faixa de 500 g a 800 g (8 a 10 g/kg/dia), e representar 60% a 70% da ingestão energética diária total. Segundo Fogelholm, a exclusão de carne da dieta não prejudica o desempenho em exercícios repetidos de curta duração. Já a redução da ingestão de proteínas e o aumento de carboidratos durante 3 a 5 dias podem resultar em uma melhoria de desempenho em exercício anaeróbico com duração de 2 a 7 minutos. As dietas vegetarianas, freqüentemente, possuem altas taxas de carboidratos, disponibilizando substrato para uma melhor síntese de glicogênio. 

               Quanto à ingestão proteica, vegetarianos normalmente apresentam valores mais baixos, quando comparados a indivíduos não-vegetarianos. Além disso, a qualidade das proteínas de origem vegetal é considerada de baixo valor biológico, visto que são incompletas quanto à composição de aminoácidos. Apesar de necessárias novas investigações, a dieta composta somente por fontes proteicas vegetais parece capaz de satisfazer as necessidades de adultos e crianças saudáveis.

               A quota dietética recomendada (RDA) de proteínas é de 0,8 g/kg de peso por dia. Sabe-se, porém, que atletas de força e endurance necessitam de uma maior ingestão protéica, quando comparados à população saudável sedentária. Lemon sugere que atletas de força, potência ou velocidade aumentem a ingestão para 1,7 a 1,8 g/kg/dia, e atletas de endurance para 1,2 a 1,4 g/kg/dia. Quantidades superiores não parecem exercer um efeito adicional na performance. Alcançar a adequação de proteínas, em termos quantitativos, a partir de fontes vegetais, é possível, mesmo em uma dieta vegan, principalmente quando se faz a combinação de diferentes fontes dietéticas. Ainda assim, há a possibilidade de menor ingestão de aminoácidos essenciais ou mesmo do aminoácido derivado carnitina.

Micronutrientes
 
               Segundo estudo realizado por Janelle & Barr, as mulheres que seguiam dieta vegetariana apresentavam menor ingestão de riboflavina, niacina, vitamina B12 e sódio que as não-vegetarianas e maior ingestão de ácido fólico, vitamina C e cobre. Em pesquisa com jovens vegans de ambos os sexos, foram encontradas baixas ingestões de riboflavina, cobalamina, vitamina D, cálcio e selênio. As ingestões de cálcio e selênio permaneceram abaixo do desejável, mesmo após a inclusão de suplementos dietéticos. Pesquisa recente mostrou ingestão deficiente de iodo por indivíduos de ambos os sexos que adotavam dietas vegan e LOV.

               O ferro não-heme, proveniente de fontes vegetais e de parte do conteúdo total das carnes, é menos biodisponível que o ferro-heme, encontrado em fontes animais. A eliminação de carnes e o aumento de legumes e grãos integrais na dieta podem resultar na menor ingestão deste mineral, assim como de zinco. Inúmeros efeitos adversos à saúde, vinculados à menor biodisponibilidade de ferro e zinco, têm sido demonstrados pela adoção de dietas vegetarianas. Sabe-se que essa prática alimentar pode, até mesmo, conter mais ferro do que em dietas não vegetarianas, mas o mineral encontra-se menos disponível para absorção, dados as diferenças na forma química e os fatores inibidores presentes. Apesar dos alimentos vegetais possuírem substâncias que aumentam a captação de ferro, a adoção de dietas vegetarianas precisa ser bem planejada para evitar a deficiência deste mineral. Assim, a recomendação para ingestão de ferro por parte dos vegetarianos é aumentada em 80% além da RDA. A baixa ingestão de ferro pode levar ao quadro de anemia, interferindo de forma negativa no desempenho, à medida que limita o transporte de oxigênio para os músculos em atividade.

               Algumas pesquisas indicam que vegetarianos, especialmente vegans, apresentam ingestão e concentração sérica de vitamina B12 (cobalamina) inferiores aos não vegetarianos. Mas, de acordo com Johnston, casos de deficiência desta vitamina são incomuns, mesmo entre os vegans. As razões para tal seriam a baixa necessidade da vitamina, as reservas relativamente grandes e uma circulação enteroepática eficiente, que recupera a maior parte da cobalamina excretada na bile. Ainda assim, a redução na ingestão dessa vitamina tem sido associada, nas dietas vegetarianas (principalmente vegan), ao quadro de hiperhomocisteinemia, sendo esse considerado um fator de risco independente para o desenvolvimento de cardiopatias. Janelle & Barr sugerem atenção para que quantidades necessárias da vitamina sejam ingeridas. Suplementos orais, ou consumo de produtos enriquecidos com cianocobalamina (forma farmacológica do nutriente), como extrato hidrossolúvel de soja e cereais matinais, são opções que podem auxiliar o atendimento às recomendações.

               São menos frequentes as baixas ingestões de cálcio, zinco, cobalamina e vitamina D entre os lactoovovegetarianos, por consumirem leite e derivados na dieta, fontes significativas desses minerais. Vegans necessitam maior atenção para que não desenvolvam deficiências nutricionais, o que resultaria em efeitos negativos para a saúde e, conseqüentemente, para o desempenho atlético.

Creatina muscular 

[...]

               Especulava-se que indivíduos vegetarianos apresentariam concentração total de creatina menor que aqueles que seguem uma dieta onívora. Assim, apresentariam melhor resposta à suplementação, devido ao maior aumento de creatina no organismo, pois um maior efeito ergogênico é encontrado nos indivíduos que apresentam, antes da suplementação, baixos níveis musculares do composto. 

               Algumas investigações foram realizadas para elucidar essa questão. Lukaszuk et al. verificaram que indivíduos que retiraram produtos cárneos da dieta por 21 dias apresentaram diminuição nos níveis musculares de creatina. Entretanto, após a suplementação, seus níveis de creatina não apresentaram diferença significativa em relação aos dos indivíduos que continuaram com o consumo de carnes e também receberam suplementação (148,6 mmol kg-1 e. 141,7 mmol kg-1, respectivamente). Em estudo posterior, por meio de biópsia muscular do músculo vasto lateral, foram encontrados níveis mais baixos de creatina total intramuscular nos vegetarianos (117 mmol.kg-1 contra 130 mmol.kg-1 nos onívoros). Além disso, estes apresentaram maiores aumentos nos níveis de fosfocreatina e creatina total e massa muscular, além de melhor desempenho em exercícios de força após a suplementação. Watt et al. confirmaram esses achados (106,6 mmol.kg-1 contra 124,8 mmol.kg-1), mas não encontraram diferenças significativas na expressão gênica do transportador de creatina (CreaT) entre os grupos, tanto pré como pós-suplementação. Contudo, Shomrat et al., após a realização de protocolo experimental com vegetarianos e onívoros, verificaram que ambos os grupos apresentaram aumentos similares na potência, após período de suplementação de creatina de uma semana, no teste modificado de Wingate em ciclo-ergômetro. 

ALTERAÇÕES FISIOLÓGICAS

Alterações hormonais

               A manipulação de variáveis do treinamento, como intensidade, volume e recuperação, pode afetar a resposta hormonal ao exercício. Já a influência da dieta sobre a concentração hormonal é menos compreendida. Raben et al. verificaram a concentração de testosterona em indivíduos com diferentes dietas. Valores mais baixos foram encontrados em homens que consumiam dieta vegetariana rica em proteína, quando comparados aos que consumiam dieta não-vegetariana, também rica no nutriente. Além disso, os fitoestrógenos da soja, alimento muito consumido por vegetarianos, podem ocasionar concentrações mais baixas de testosterona e androstenediona. Em relação ao IGF-1, um fator de crescimento liberado pelo fígado em resposta ao hormônio do crescimento, estudo realizado com mulheres vegetarianas relata redução em suas concentrações plasmáticas, que pode estar relacionada à baixa ingestão de lipídios, principalmente nos que adotam dieta vegan. Os baixos níveis de testosterona sérica e de IGF-1 têm sugerido efeito negativo sobre a hipertrofia muscular e o desenvolvimento da força, visto que são hormônios anabólicos e influenciam na expressão da força, por meio de mecanismos neurais e da síntese protéica. Apesar disso, a suplementação protéica à base de vegetal (proteína de soja) mostrou-se capaz de proporcionar um aumento significativamente maior dos níveis de IGF-1, quando comparada à suplementação com proteína do leite, à base de caseína e proteínas do soro.

Função imunológica
 
               Especulou-se se a dieta vegetariana poderia ocasionar impacto negativo sobre a função imunológica, mas, segundo Fogelholm, a retirada da carne da dieta não parece ocasionar efeitos adversos sobre essa função. Quanto à influência da dieta LOV na função imunológica de atletas de endurance, não foram encontradas diferenças significativas na quantidade e atividade das células do sistema imune entre os grupos. Entretanto, sabe-se que o treinamento exaustivo pode causar impacto negativo sobre a função imunológica em atletas, independentemente do tipo de dieta, aumentando a suscetibilidade a infecções, como do trato respiratório superior. Afirma-se que a suplementação de glutamina exerça efeito positivo nesse sentido, atenuando o quadro de imunossupressão pós-exercício.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

               De acordo com as publicações científicas atuais, a prática vegetariana pode proporcionar diversos benefícios à saúde humana, desde que bem planejada para atender às necessidades nutricionais. Algumas conclusões puderam ser levantadas, apesar de haver ainda muitas questões a serem elucidadas:

- De acordo com a literatura, não foram encontradas diferenças significativas na capacidade aeróbica e de força em indivíduos que seguiram diferentes dietas. As pesquisas que relacionaram o tipo de dieta com o desempenho de força ou atividades supramáximas são escassas, havendo a necessidade de mais investigações a fim de elucidar a questão. 

- Vegetarianos ingerem frequentemente grandes quantidades de carboidratos, fibras dietéticas, magnésio, potássio, folato, antioxidantes e fitoquímicos. É necessária maior atenção na dieta desses indivíduos, no que diz respeito à ingestão de cálcio, zinco, ferro e vitamina B12. A ocorrência de anemia por deficiência de ferro pode ser mais comum na mulher atleta, o que interfere negativamente no rendimento. A baixa ingestão de vitamina B12 pode levar ao quadro de hiper-homocisteinemia, aumentando o risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares. 

- O conteúdo proteico dos alimentos de origem vegetal é frequentemente menor, além de apresentarem menor valor biológico, pois possuem aminoácidos limitantes. Ainda assim, os pesquisadores sugerem que a ingestão proteica nas dietas vegetarianas pode cumprir a cota de fornecimento adequada, mesmo para atletas que necessitam de maior ingestão proteica. 

- Uma dieta vegetariana necessita ser bem planejada e equilibrada em termos nutricionais, sendo, assim, apropriada a todos os estágios do desenvolvimento humano, incluindo a gestação, lactação, infância e adolescência, além de proporcionar suporte adequado ao desempenho esportivo. 

- Os níveis de creatina intramusculares dos vegetarianos são mais baixos, o que pode afetar o rendimento em exercícios supramáximos. Em contrapartida, a suplementação de creatina mono-hidratada pode proporcionar maior efeito ergogênico nesses indivíduos.

- Vegans e vegetarianos podem apresentar níveis mais baixos de hormônios anabólicos, como a testosterona, androstenediona e IGF-1, o que, talvez, interfira diretamente no desenvolvimento da força e hipertrofia musculares. A função imunológica não parece ser afetada.

               Embora com qualidade nutricional diferente da onívora, a dieta vegetariana, desde que supra as adequações nutricionais do atleta, não prejudica o seu desempenho aeróbio. No que se refere ao desempenho hipertrófico ou de força e potência muscular, os resultados não são conclusivos.