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terça-feira, 30 de abril de 2013

"Substituição" da carne

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               Essa é uma das principais dúvidas entre os novos vegetarianos. É muito prudente e importante cuidar do planejamento adequado da dieta vegetariana, mas esta pergunta incorre em alguns erros. O primeiro deles é a idéia de que o ajuste no cardápio para adequação a uma dieta vegetariana seria algo tão simples quanto a substituição de um alimento por outro. O outro erro é o aparente entendimento de que a carne precisa ser substituída.

               Os nutrientes habitualmente fornecidos pela carne (proteína, ferro, vitaminas do complexo B...) devem receber o cuidado de estarem contemplados na dieta vegetariana, mas o equívoco está na falsa premissa de que a carne seria a principal fonte destes nutrientes, e de que os outros alimentos seriam apenas um complemento ou uma “substituição”. Tanto no que diz respeito às proteínas, quanto no que diz respeito ao ferro e aos outros nutrientes fornecidos pela carne, podemos encontrar fontes tão boas ou até superiores nos alimentos vegetais.

               Outro erro é querer “trocar” a carne por um outro único alimento. A pessoa que adota uma dieta vegetariana deve ter clareza de que a sua dieta deverá passar por mudanças mais amplas para que todas as necessidades nutricionais do indivíduo sejam supridas. Muitos novos vegetarianos acabam simplesmente aumentando a ingestão de alimentos derivados de animais, como os ovos e os laticínios, ou passam a comer de maneira exagerada um determinada alimento, como a soja por exemplo.

               Uma ingestão muito aumentada de ovos pode facilmente elevar os níveis de colesterol sangüíneo. Assim, em vez de aproveitar o potencial da dieta vegetariana em reduzir as taxas de colesterol, o vegetariano acaba sendo surpreendido por uma taxa elevada de colesterol.


               Outra falha bastante comum é o aumento no consumo de laticínios, como forma de “compensação” pela retirada da carne. Os laticínios, além de terem uma poderosa capacidade alergênica, estão entre os alimentos mais pobres em ferro que podemos encontrar na natureza. Ao retirar da dieta um alimento rico em ferro (carne) e incluir no seu lugar um alimento pobre em ferro (leite, queijos, iogurtes), o risco de desenvolver anemia ferropriva é grande.

               Escolher “substituir” a carne por um único alimento vegetal também incorre em outros erros, pois assim como os derivados animais, nenhum é idêntico a ela. E nem precisa ser, pois a dieta vegetariana pode ser muito mais rica e variada do que a dieta que onívora (que inclui as carnes). O desafio consiste em mudar paradigmas: a carne não é o centro da dieta, ela é apenas uma opção e, quando ela deixa de ser uma opção, é a totalidade da grande gama de alimentos vegetais que será capaz de suprir as nossas necessidades nutricionais.

               Como exemplo, a proteína e o ferro podem ser fornecidos pelas castanhas e sementes (nozes, avelãs, castanha-do-Pará, castanha de caju, amêndoas, gergelim, semente de girassol) e pelas leguminosas (feijão, lentilha, ervilha, grão-de-bico, soja e derivados). Se as compararmos à carne, veremos que estes alimentos vegetais irão suprir as nossas necessidades destes nutrientes, mas com uma carga menor de gordura total e gordura saturada. Isto permite que haja espaço para a inclusão de outros alimentos que serão fontes de ainda outros nutrientes e assim a dieta se torna mais rica e mais completa. Quando a proteína e o ferro são fornecidos pelas castanhas e pelas leguminosas ao invés da carne, há ainda a vantagem de se estar consumindo mais fibras e outras substâncias protetoras, ao mesmo tempo em que não conseguimos fornecer a vitamina B12. Ou seja, ainda que as castanhas e leguminosas supram a nossa necessidade protéica e de ferro, elas trazem tanto vantagens quanto desvantagens sobre a opção pela carne.

               Se considerarmos a qualidade desta proteína, veremos ainda que a idéia da “substituição”, nestes termos, fica ainda mais inviável. Isto não significa dizer que seja inviável suprir a nossa necessidade protéica com vegetais, significa apenas que a busca por um substituto vegetal idêntico à carne tem grandes chances de ser frustrada, pois é raro um alimento vegetal que contenha todos os aminoácidos essenciais. No entanto, uma combinação de alimentos vegetais garante a ingestão destes aminoácidos de forma completa e é aqui que encontramos a melhor ilustração deste paradigma inerente: se são raros os vegetais com um bom perfil de aminoácidos, como pode um vegetal suprir adequadamente a nossa necessidade destes? Um único vegetal raramente poderá, mas uma variedade de vegetais o fará tranqüilamente, reforçando a idéia de que a adequação da dieta não está em um “substituto” à carne, mas na reforma global das escolhas alimentares.

               Os maiores benefícios da dieta vegetariana advém justamente desta necessidade de variar a dieta. Para ser praticada com critério, a dieta vegetariana não pode se ater aos velhos hábitos que contam com uma variedade muito limitada de alimentos para manter o indivíduo razoavelmente saudável. Seja pela descoberta culinária ou pela necessidade de adequação da dieta, logo o novo vegetariano percebe a necessidade de explorar novos ingredientes, novas preparações, novas influências culinárias. O resultado é uma dieta bastante variada, que permite o consumo de uma gama maior de nutrientes, Mais do que isso, permite também o consumo de uma gama maior de substâncias protetoras (antioxidantes, fitoquímicos, fibras), um quesito essencial para elevar o estado de saúde de razoavelmente saudável a excelente.


               Quando observamos estudos que apontam para os efeitos protetores da dieta vegetariana, é importante entender que a dieta vegetariana é mais saudável não apenas porque elimina do cardápio um alimento que é rico em substâncias nocivas ao organismo (gordura saturada, colesterol, contaminantes), mas também porque permite a inclusão de uma maior variedade de alimentos. A busca pelos nutrientes essenciais, diferentemente da busca por um substituto à carne animal, naturalmente leva o indivíduo a ampliar o seu cardápio. Com isto mudam as características da dieta, ampliando a ingestão dos elementos que nutrem e ainda dos fatores que protegem. Para se obter os melhores resultados para a saúde como um todo, o melhor substituo a carne animal está, portanto, na revisão do hábito alimentar como um todo e a informação é ponto chave para fazer isto com sucesso.



GEORGE GUIMARÃES
Nutricionista CRN3: 7708

Texto extraído do site "Nutriveg", do próprio autor.

domingo, 28 de abril de 2013

Atividades físicas para hipotensão e consumo de café



A INGESTÃO DE CAFÉ ABOLE A HIPOTENSÃO INDUZIDA POR EXERCÍCIO AERÓBIO: UM ESTUDO PILOTO
Revista da Educação Física/UEM

Thereza Karolina Sarmento da Nóbrega, James Silva Moura Junior, Naiane Ferraz Bandeira Alves, Amilton da Cruz Santos, Alexandre Sérgio Silva

RESUMO

               Para analisar o efeito da ingestão de café na resposta pressórica pós-exercício em hipertensos, seis sujeitos de ambos os sexos (56,7±4,5 anos) realizaram três sessões de exercício aeróbio em esteira. Eles ingeriram três xícaras (140 ml cada) de café (CA), placebo (PL) ou água (AG), aos 10, 20 e 30 minutos após o exercício. A pressão arterial foi verificada imediatamente antes de cada ingestão e, a partir daí, em intervalos de 15 minutos até completar 120 de recuperação. No procedimento AG, a pressão arterial diminuiu 8,4 mmHg para a sistólica e 5,6 mmHg para a diastólica, em relação aos valores basais. Por outro lado, em CA ocorreu aumento de 4,3 mmHg para a pressão sistólica e 7,7 mmHg para a diastólica. Em PL, ocorreu hipotensão pós-exercício, mas com valores atenuados em relação à CA. Conclui-se que a ingestão de café não só abole a hipotensão pós exercício em hipertensos, mas também provoca uma resposta hipertensiva.

Palavras-chave: Pressão arterial. Hipotensão. Adenosina. Cafeína.

INTRODUÇÃO

               A hipertensão arterial sistêmica (HAS) é a doença crônica mais prevalente nos países industrializados. No Brasil, a prevalência varia entre 22,3% e 44,4%, dependendo da região estudada (FUCHS et al., 1994; BOING; BOING, 2007; CASTRO; MONCAU; MARCOPITO, 2007; LATERZA; RONDON; NEGRÃO, 2007). Além disso, ela representa um importante problema socioeconômico, sendo uma das principais causas de aposentadoria precoce e de absenteísmo ao trabalho, provocando elevados custos aos cofres governamentais (ROLIM; AMARAL; MONTEIRO, 2007).

               O exercício físico tem se revelado uma importante ferramenta no tratamento da HAS, promovendo redução da pressão arterial (PA) em sujeitos hipertensos em magnitude similar à que é obtida pelo uso de uma das classes de medicamentos anti-hipertensivos (BASTER; BASTER-BROOKS, 2005). Uma única sessão de exercício físico aeróbio é capaz de provocar queda na PA de 2 a 17 mmHg para a pressão arterial sistólica (PAS) e 2 a 7 mmHg para a pressão arterial diastólica (PAD), quando comparada com os níveis de repouso pré-exercício (FORJAZ; RONDON; NEGRÃO, 2005). Essa redução na pressão arterial após o exercício é denominada de hipotensão pós-exercício (HPE), e pode perdurar por até 24 horas (FAGARD, 2001; BASTER; BASTER-BROOKS, 2005). A magnitude da HPE está relacionada a fatores como o nível pré-exercício, o tipo de exercício realizado, a intensidade do esforço e a duração da sessão (FAGARD, 2001). [...]

               Atividades da vida cotidiana da maioria dos sujeitos, como a ingestão de alguns alimentos, podem atuar sobre alguns destes mecanismos, o que poderia interferir na HPE. Como exemplo disso listam-se os alimentos ricos em cafeína, como refrigerantes do tipo cola, guaraná, chocolates, chás e café. Desses alimentos, o café faz parte da cultura de muitas populações, especialmente no Brasil, que é um dos principais produtores mundiais desse grão. Uma porção de 150 mL de café (equivalente a uma xícara) contém entre 64 e 124 mg de cafeína, dependendo da espécie, torrefação e técnica de preparo (BARONE; ROBERTS, 1996) . A quantidade de cafeína presente em três xícaras de café já é suficiente para desencadear uma vasoconstrição, a qual pode ser mediada pelo aumento da atividade nervosa simpática ou, intrinsecamente, por inibição competitiva da atividade da adenosina (um potente vasodilatador) em seus receptores A1 (CAVALCANTE et al., 2000; NOTARIUS et al., 2001; NOTARIUS; MORRIS; FLORAS, 2006; RIKSEN; RONGEN; SMITS, 2009).

[...]

               Diante do exposto, o objetivo deste estudo foi investigar os efeitos da ingestão de café após o exercício físico sobre a resposta hipotensora de sujeitos hipertensos que realizam exercícios físicos como terapia anti-hipertensiva e que apresentam histórico de redução aguda da PA nas primeiras horas pós-exercício.

MÉTODOS

[...]

               Em cada um dos três dias em que o exercício foi realizado, uma xícara de café, placebo ou água foi ingerida aos 10, 20 e 30 minutos depois de encerrado o exercício. Durante o momento de ingestão os indivíduos ficaram sentados e foi estipulado que eles ingerissem o café, placebo ou água, no máximo,
em cinco minutos. A ordem em que os líquidos foram ingeridos a cada dia foi definida aleatoriamente. Ressalte-se que a administração de café ou do placebo foi feita pelo modelo duplo-cego.

[...]

CONCLUSÃO

               Os resultados deste estudo evidenciaram que a ingestão de três xícaras de café não só abole a HPE, mas também provoca uma reação hipertensiva em resposta a uma sessão de exercício físico aeróbio. Este resultado é de grande importância para hipertensos que têm o hábito de consumir café em sua dieta alimentar e utilizam o exercício físico como forma de tratamento da hipertensão. Uma vez que quantidades menores de café são utilizadas habitualmente por estes sujeitos e podem não interferir negativamente na HPE, novos estudos são necessários para melhor definir o volume seguro dessa bebida, bem como para manter os efeitos do exercício, de modo a melhor auxiliar educadores físicos e nutricionistas no manejo da hipertensão arterial.


Para referências e artigo na íntegra acesse:

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Respiração pós-esforço



EXCESSO DE OXIGÊNIO CONSUMIDO PÓS-ESFORÇO: POSSÍVEIS MECANISMOS FISIOLÓGICOS
Revista da Educação Física/UEM

Adriano Eduardo Lima-Silva, Flávio de Oliveira Pires, Rômulo Bertuzzi

RESUMO

               O consumo de oxigênio pós-esforço (EPOC) vem sendo amplamente estudado na literatura, entretanto os mecanismos fisiológicos envolvidos na determinação da magnitude e duração do EPOC não estão totalmente esclarecidos. Na presente revisão são discutidos as principais evidências relacionadas aos mecanismos fisiológicos determinantes do EPOC e o efeito da intensidade e do tempo de exercício sobre a sua magnitude e duração. O EPOC rápido parece ser decorrente da ressíntese de ATP-CP, da remoção do lactato sanguíneo, do aumento da temperatura corporal e do metabolismo lipídico. Muitas dessas alterações ocorrem com cinética diferente das encontradas para o EPOC. O EPOC lento parece decorrer principalmente do ciclo dos triglicerídeos/ácidos graxos. A magnitude e duração do EPOC parecem ser relacionadas linearmente com o tempo e exponencialmente com a intensidade de esforço. Devido a essa relação, a magnitude e duração do EPOC podem interferir em programas de redução da massa corporal.

Palavras-chave: Consumo de oxigênio. Metabolismo energético. Massa corporal. 

INTRODUÇÃO

               Durante a transição do estado de repouso para o exercício contínuo de intensidade até o limiar de lactato (domínio moderado) o consumo de oxigênio (VO2) aumenta de forma monoexponencial até atingir um estado de equilíbrio (GAESSER; POOLE, 1996; OZYENER et al., 2001). Nos exercícios realizados entre o limiar de lactato e o máximo estado estável de lactato ou potência crítica (PC) (domínio pesado), o VO2 aumenta de forma biexponencial, atingindo equilíbrio próximo ao sexto minuto de exercício, mas em valores maiores do que o estimado pela relação entre VO2 e intensidade estabelecida em exercício de domínio moderado. 

               Nos exercícios realizados entre o máximo estado estável de lactato e o consumo máximo de oxigênio 
(VO2max) (domínio severo) o VO2 também aumenta de forma biexponencial, porém ele não se estabiliza e atinge valores iguais ao VO2max. O déficit de oxigênio pode ser estimado pela área correspondente à diferença entre a demanda de VO2 para a carga (estimada a partir da relação linear entre VO2 e intensidade) e o VO2 mensurado em um determinado momento. De forma similar, o consumo de oxigênio não retorna aos valores de repouso imediatamente após o término do esforço, apresentando também um comportamento exponencial. Em outras palavras, existe um lento retorno aos valores de repouso, sendo a amplitude e a velocidade de decréscimo dependentes da intensidade do exercício.

               Esse oxigênio “extra” consumido seria utilizado para compensar o déficit de oxigênio, por isso foi chamado nos primeiros estudos de débito de oxigênio (HILL; LONG; LUPTON, 1924abc). Posteriormente, com as modificações na proposta original, tornou-se mais apropriado chamá-lo de “excesso de oxigênio consumido pós-esforço” (EPOC, do termo em inglês excess post-exercise oxygen consumption) (GAESSER; BROOKS, 1984; BAHR; GRONNEROD; SEJERSTED, 1992). O EPOC pode ser definido como o total de oxigênio extra consumido durante a fase de recuperação (litros) e pode ser calculado como a diferença entre a integral VO2-tempo pós-esforço e a integral VO2- tempo de mesmo período com o individuo em repouso (HILL; LONG; LUPTON, 1924abc). 

               Dois principais tópicos norteiam a evolução das pesquisas realizadas com o EPOC. O primeiro refere-se aos mecanismos fisiológicos que regulam o fenômeno, enquanto o segundo destina-se a descrever os efeitos da intensidade e da duração do esforço sobre a magnitude e tempo de manutenção do EPOC. Atualmente, na 
literatura científica, o segundo tópico é bem compreendido, ao passo que o primeiro ainda não foi totalmente resolvido. Assim, esta revisão destina-se a sintetizar o conhecimento existente sobre EPOC, dando um enfoque especial à história, aos mecanismos fisiológicos e aos efeitos da intensidade e duração do exercício.

[...]

EFEITO DA INTENSIDADE E DURAÇÃO DO ESFORÇO SOBRE A MAGNITUDE DO EPOC 

               Uma série de estudos vem demonstrando a importância da intensidade e duração do esforço sobre a magnitude e duração do EPOC (BAHR et al., 1987; CHAD; WENGER, 1988; GORE; WITHERS, 1990; CHAD; QUIGLEY, 1991; BAHR et al., 1991; BAHR; SEJERSTED, 1991; BAHR, 1992; BAHR; GRØNNERØD; SEJERSTED, 1992; FREY; BYRNES; MAZZEO, 1993; LaFORGIA et al., 1997; BORSHEIM; BAHR, 2003; LaFORGIA; WITHERS; GORE, 2006). Basicamente, é bem sustentado na literatura que exercícios com baixa intensidade e/ou curta duração não são suficientes para provocar um EPOC de grande magnitude e/ou prolongado (BØRSHEIM; BAHR, 2003). Em uma série de estudos, Bahr e colaboradores (1987), Bahr e Sejersted (1991), Bahr (1992) demonstraram que a magnitude do EPOC aumenta exponencialmente em função da intensidade e linearmente em função da duração do exercício. No primeiro estudo de Bahr e colaboradores (1987), seis homens realizaram 20, 40 e 80 minutos de exercício a 70% VO2max em dias diferentes, seguidos de um monitoramento do VO2 durante 24 horas. Os autores verificaram que o EPOC para as doze primeiras horas foi linearmente associado com a duração do exercício, com valores de VO2 5,1; 6,8 e 14,4% acima do repouso, respectivamente. Chad e Wenger (1988) também verificaram um aumento de 2,35 vezes no EPOC quando a duração do esforço a 70% VO2max foi aumentada de 30 para 45 minutos, e 5,3 vezes quando a duração aumentava de 45 para 60 minutos. Em posterior estudo, Bahr e Sejersted (1991) demonstraram que, após 80 minutos de exercício a 29, 50 e 75% do VO2max, tanto a duração do EPOC (0,3; 3,3 e 10,5 horas) quanto a magnitude (1,3; 5,7 e 30,1 l) aumentavam exponencialmente em função da intensidade do exercício. 

               Outros grupos de pesquisadores encontraram resultados similares, o que corrobora a influência da intensidade e duração do esforço sobre a magnitude do EPOC (GORE; WITHERS, 1990; FREY; BYRNES; MAZZEO, 1993). Gore e Withers (1990) investigaram o efeito da intensidade (30, 50 e 70% do VO2max), da duração (20, 50 e 80 minutos) e da interação entre os dois fatores sobre a magnitude do EPOC. Os autores encontraram valores de EPOC (8 horas pós-exercício) de 1,01; 1,43 e 1,04 l para 30% do VO2max, 3,14; 5,19 e 6,10 l para 50% do VO2max e 5,68; 10,04 e 14,59 l para 70% do VO2max. A intensidade do exercício foi responsável por 45,5% da determinação do EPOC, enquanto a duração e a interação intensidade-duração foram responsáveis por apenas 8,9 e 7,7%, respectivamente. Esses resultados sugerem que a intensidade do exercício seja o fator principal para determinação da magnitude do EPOC.

               Não obstante, nem todos os estudos encontraram uma relação positiva entre EPOC e intensidade de exercício. Chad e Quigley (1991) investigaram o EPOC durante três horas pós exercício a 50 e 70% do VO2max por 30 minutos em indivíduos treinados e destreinados. O VO2 mensurado durante intervalos de tempo de até três horas a partir da recuperação foi maior a 50% do que a 70% do VO2max, tanto para o grupo destreinado quanto para o grupo treinado. Provavelmente, alguns fatores metodológicos interferem na comparação entre esses estudos, pois o VO2 não havia retornado aos valores de repouso até o final da mensuração (três horas), portanto a magnitude total do EPOC não pôde ser estimada.

               Como a intensidade do esforço parece ser o principal determinante da magnitude do EPOC, era de esperar que exercício supra-VO2max gerasse valores elevados de VO2 pós-esforço. Realmente, LaForgia e colaboradores (1997) compararam a magnitude do EPOC durante nove horas após 30 minutos de exercício a 70% do VO2max e após 20 séries de exercícios, com um minuto de duração cada, realizados a 105% do VO2max e com dois minutos de recuperação entre as séries. Os autores verificaram, após o exercício intenso, valores de EPOC duas vezes maiores do que aqueles verificados após o exercício moderado (15,0 vs 6,9 l). Bahr, Grønnerød e Sejersted (1992) compararam a magnitude do EPOC após exercício intenso de uma, duas ou três séries a 108% do VO2max, com esforços de dois minutos e pausa de três minutos. Nesse estudo, o EPOC medido na primeira hora pós-esforço (EPOC rápido) foi linearmente associado com o número de séries realizadas durante o exercício. Esses resultados reforçam a hipótese de que a magnitude do EPOC está relacionada à intensidade do exercício.

               Alguns estudos mais recentes têm comparado o EPOC entre diferentes situações e modo de exercício (LYONS et al., 2006; SCOTT et al., 2006; LYONS et al., 2007). Lyons e colaboradores (2007) investigaram a magnitude do EPOC após ergometria de membros superiores e inferiores realizada a 60% VO2max especifico para cada ergômetro. O exercício foi realizado até completar 200 kcal de trabalho total. Os autores verificaram que a magnitude e duração do EPOC foram significativamente maiores para o exercício dos membros inferiores do que para o dos membros superiores. Em um estudo posterior, o mesmo grupo demonstrou que a magnitude do EPOC era maior após três séries de 10 minutos de duração cada do que após 30 minutos contínuos, ambos mensurados após ergometria de membros superiores (LYONS et al., 2006). Em outro tipo de comparação, Scott e colaboradores (2006) verificaram não existirem diferenças entre os valores de EPOC após exercício em cicloergômetro ou em esteira, ambos realizados a 250W de potência durante um minuto. Interessante que os autores verificaram uma maior participação anaeróbia durante o ciclismo e maior participação aeróbia durante a corrida, embora ambos tenham sido realizados na mesma intensidade. 

IMPLICAÇÕES PRÁTICAS

               A manipulação de variáveis como dieta, intensidade, modo e duração do exercício na tentativa de aumentar a magnitude do EPOC é justificada pelo possível efeito dessa variável em programas de emagrecimento (LIMA-SILVA et al., 2008). Por exemplo, Warwick (2006) demonstrou que a estimativa do gasto energético diário levando-se em consideração apenas o gasto energético de repouso e o custo energético das atividades físicas era subestimada em aproximadamente 14%. A estimativa foi melhorada quando levados em consideração o EPOC e o efeito térmico da dieta, subestimando-se o gasto energético real em apenas 5%. Os resultados desse estudo demonstram que o EPOC pode ser um componente importante para elaboração de dietas e programas de treinamento visando à redução da massa corporal.

               Em um estudo de Bahr e Sejersted (1991) foi verificado que a ingestão de uma dieta com 4,5 megajoules (MJ) aumentava significativamente o consumo de oxigênio logo após a refeição, mas a magnitude desse aumento foi independente de o individuo ter ou não realizado um exercício prévio, ou seja, foi independente da refeição ter sido realizada durante a fase de EPOC ou durante uma situação-controle de repouso. Por sua vez, Bielinski, Schutz e Jéquier (1985) observaram que uma dieta equilibrada (55% de carbohidrato, 27% de gordura e 18% de proteína) ingerida 30 minutos após três horas de exercício a 50% do VO2max, aumentou a oxidação de lipídios pós-refeição em relação a uma mesma refeição ingerida sem exercício prévio. Esses resultados sugerem que o exercício físico pode contribuir em programas de emagrecimento, não apenas por aumentar o gasto energético durante a atividade, mas também por elevar a oxidação de lipídios após o término do exercício, assim como a oxidação de lipídios após as refeições.

               No mesmo sentido, Børsheim, Kien e Pearl (2006) observaram que apenas uma dieta rica em ácido oléico foi capaz de gerar o EPOC, em comparação com uma dieta isocalórica rica em ácido palmítico. Tahara e colaboradores (2008) demonstraram ainda que a magnitude do EPOC de 40 minutos foi significativamente 
correlacionada com massa corporal magra. Um aumento na massa corporal magra somente é obtido com a prática de exercícios físicos, portanto pode interferir diretamente no gasto energético pós-esforço. LeCheminant e colaboradores (2008) verificaram uma correlação positiva entre aumento no EPOC após nove meses de treinamento e aumento do gasto energético nas sessões de exercício no mesmo período, em homens com sobrepeso ou obesidade. Em conjunto, esses resultados sugerem uma relação estreita entre dieta, exercício regular e EPOC. Estudos longitudinais verificando o efeito da combinação de diferentes dietas com diferentes modos de exercício sobre o EPOC e as consequências para a redução da massa corporal concluíram que essa combinação poderia auxiliar nos aspectos práticos que seriam obtidos ao se manipular o EPOC.

CONSIDERAÇÕES FINAIS 

               A partir dos estudos analisados na presente revisão, pode-se concluir que os principais fatores que contribuem para o aparecimento do EPOC rápido após o exercício submáximo são temperatura corporal e remoção de lactato. A remoção do lactato parece ser mais importante após o exercício supramáximo, porém a parcela real do lactato produzido que é reconvertida a glicogênio não é totalmente conhecida, o que inviabiliza a precisão nos cálculos de estimativa do gasto energético para a remoção desse produto. Estudos separando o EPOC intramuscular do obtido por mensuração geral do organismo, também sugerem que o excesso de oxigênio consumido após uma atividade é decorrente de alterações genéricas metabólicas e hormonais. Neste sentido, uma parcela do EPOC rápido poderia ser atribuída ao aumento na temperatura corporal, à estimulação simpática e ao ciclo TG-AG. 

               Muitas dessas alterações ocorrem com dinâmica diferente da encontrada para o EPOC, sugerindo que a contribuição relativa de cada um desses componentes se modifica ao longo do tempo. Diferentemente do EPOC rápido, as catecolaminas não têm efeito direto sobre o EPOC prolongado, sendo o custo energético do ciclo TG-AG aparentemente o principal responsável pelo seu aparecimento.

               Nos estudos revisados, é bem sustentado que exercícios com baixa intensidade e/ou curta duração não são suficientes para gerar um EPOC de grande magnitude e/ou prolongado. Ambos, intensidade de esforço e duração, são os principais fatores que determinam a magnitude e duração do EPOC. A magnitude e a duração do EPOC aumentam exponencialmente em função da intensidade, enquanto aumentam de maneira linear em função da duração do esforço. Esforços de alta intensidade (supramáximos) e de curta duração parecem ser suficientes para gerar valores elevados de EPOC.

               Do ponto de vista prático, o exercício físico poderia contribuir em programas de emagrecimento, não apenas por aumentar o gasto energético durante a atividade, mas também por elevar o gasto energético durante a fase de recuperação. Como o modo, a intensidade, a duração, o tempo e o conteúdo das refeições pós-exercício manipulados parecem interferir na magnitude do EPOC, uma combinação ótima dessas variáveis poderia refinar programas tradicionais de exercício para o emagrecimento. 

Para referências e artigo na íntegra acesse:

Efeitos do farelo de aveia



EFEITOS DO FARELO DE AVEIA SOBRE PARÂMETROS ANTROPOMÉTRICOS E BIOQUÍMICOS EM CORREDORES DE RUA 
Revista da Educação Física/UEM

Clarice Lages de La Rocha (pós-graduanda)
Felipe Donatto, Rafaela Liberali, Francisco Navarro, Tácito Pessoa de Souza Junior, Jonato Prestes

RESUMO

               O objetivo deste trabalho foi investigar as alterações sobre parâmetros antropométricos e bioquímicos após a suplementação crônica de farelo de aveia em corredores de rua na faixa etária de 18 a 52 anos. Os corredores foram divididos em dois grupos: grupo placebo (GP) e grupo experimental (GE) - respectivamente n = 7 e n = 12. Durante oito semanas o GP recebeu 20g de talco e o GE 30g de farelo de aveia. Foram avaliados a massa corporal, o percentual de gordura, a circunferência abdominal (CA), o índice de massa corporal (IMC), os leucócitos, os linfócitos e as imunoglobulinas A, G e A salivar. O grupo GE teve diminuída a massa corporal (IMC) e a CA, o que não ocorreu no GP após oito semanas. Nesse grupo também houve redução nas imunoglobulinas A e G no GE e redução na imunoglobulina G, se comparado com o GP. A suplementação de farelo de aveia demonstrou resultado positivo sobre os parâmetros antropométricos, mas com pequenas 
modificações bioquímicas.

Palavras-chave: Fibra solúvel. Sistema imune. Corredores. Exercício físico. 

INTRODUÇÃO 

               O exercício físico gera um aumento na demanda, a qual acarreta muitas mudanças fisiológicas, inclusive imunológicas (COSTA ROSA; VAISBERG, 2002). Neste sentido, a rotina alimentar deve suprir as necessidades energéticas de forma adequada. Para isso, recomenda-se uma dieta composta por macronutrientes como carboidratos, proteínas e lipídios, e de micronutrientes, como vitaminas, sais minerais, água e fibras, como parte de uma nutrição essencial antes, durante e após cada sessão de exercício. Este equilíbrio na dieta contribui de forma positiva para o desempenho atlético, o condicionamento físico, a recuperação da fadiga após o exercício e a prevenção de lesões (AOI; NAITO; YOSHIKAWA, 2006). A importância da nutrição no desempenho e saúde 
de atletas já se encontra suficientemente documentada na literatura (RODRIGUEZ; DI MARCO; LANGLEY, 2009).

               O carboidrato é o nutriente básico para o desempenho em exercícios exaustivos prolongados. A deficiência deste nutriente estimula a depleção dos conteúdos de glicogênio muscular e hepático, resultando em fadiga, queda de desempenho, redução da massa magra e supressão da resposta imune. A influência do aporte de carboidrato sobre a resposta imune durante o exercício e na recuperação do exercício está bem descrita, de modo que o carboidrato atenua a resposta do cortisol, um hormônio relacionado à imunossupressão (BRAUN; VON DUVILLARD, 2004).

               Aproximadamente 50 a 60% da energia utilizada durante um exercício contínuo a uma intensidade de 70% do consumo máximo de oxigênio (VO2max) são derivados dos carboidratos (RODRIGUEZ; DI MARCO; LANGLEY, 2009). Um alimento rico em carboidrato e que vem ganhando destaque por sua composição nutricional é a aveia 
(FRANCO, 2001). A concentração de fibra alimentar solúvel no grão de aveia é relativamente maior quando comparada aos demais cereais (FERNANDES et al., 2006).

               A fibra solúvel da aveia tem sido relacionada a diversos benefícios para a saúde, e seu uso diário é importante para a redução do tempo de trânsito intestinal, prevenção da constipação, redução no risco de câncer de cólon retal, produção de ácidos graxos de cadeia curta, redução dos níveis de colesterol no sangue, regulação dos níveis de glicose, diminuição da glicemia pós-prandial, atenuação do aumento da insulina e promoção do crescimento de microflora intestinal benéfica como um probiótico. Outros efeitos menos documentados incluem: absorção reduzida de nutrientes, saciedade pós-prandial prolongada e aumento do bolo fecal (BRENNAN; LOUISE; CLEARY, 2005). [...]

               As respostas ao exercício físico são, basicamente, duas: resposta aguda (resposta transitória ao estresse) e resposta de adaptação crônica, na qual o treinamento capacita o organismo a lidar com o estímulo estressante de maneira mais adequada. Ambas as respostas afetam os diversos componentes do sistema imune, tanto a resposta inata em seu componente celular - compreendendo os neutrófilos, os macrófagos e as células natural killer - como a resposta em seu componente humoral: proteínas de fase aguda, sistema do complemento e enzimas.

               [...]A frequência, duração, temperatura e intensidade do exercício podem alterar a resposta imune de forma positiva ou negativa, sendo essa resposta dependente da ação dos leucócitos que agem no sangue e migram para os tecidos periféricos onde há inflamação. Donatto et al. (2008) demonstraram resultados positivos em ratos treinados em natação com uma suplementação crônica de fibras solúveis oriundas do farelo de aveia. Levando-se em consideração que o exercício físico associado à administração de farelo de aveia pode alterar a resposta imune, o objetivo do presente trabalho foi investigar se a suplementação crônica com farelo de aveia era capaz de promover alterações antropométricas e bioquímicas em corredores de rua na faixa etária entre 18 e 52 anos.

MÉTODOS 

               O presente estudo caracteriza-se como uma pesquisa pré-experimental com delineamento pré e pós-teste, com grupos placebo e com suplementação. Segundo Thomas e Nelson (2002), a pesquisa experimental é aquela que manipula as variáveis para verificar a relação de causa e efeito. 

               A população do estudo correspondeu a 50 corredores de rua do Rio Grande do Sul. Destes foi selecionada uma amostra de 19 corredores de idade entre 18 e 52 anos, de ambos os sexos, por atenderem aos seguintes critérios de inclusão: ser um corredor de rua, não ter problemas ortopédicos, não utilizar substâncias ergogênicas e assinar o formulário de consentimento livre e esclarecido, aderindo à participação na pesquisa, conforme preconiza a Resolução N.º 196 do Conselho Nacional de Saúde, de 10 de Outubro de 1996. O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal de São Carlos (Protocolo 0036/06). Todos os corredores faziam parte da Associação dos Corredores de Rua de Rio Grande (ACORRG), associação sem fins lucrativos que possibilita a integração entre os corredores com a comunidade em atividades organizadas pelo presidente e sua equipe. Ambos os grupos treinavam cinco vezes por semana durante 60 minutos. O presidente da associação autorizou a pesquisa mediante a assinatura de uma declaração.

               Antes de iniciar o período experimental foram realizadas reuniões semanais com os corredores para o levantamento dos dados pessoais, o preenchimento do questionário de prontidão para atividade física e avaliação física corporal. O material utilizado para a avaliação física foi uma trena antropométrica com dois metros (Sanny Medical®), adipômetro científico (CESCORF®) e balança (Filizola®).

               A partir das fichas de avaliação, foram verificados os seguintes parâmetros: massa corporal, estatura, idade, circunferência abdominal (CA) e pregas cutâneas. Nesse último parâmetro, foram utilizados os protocolos propostos por Heyward e Stolarczyk (2000), Jackson e Pollock (1978) para o sexo masculino, e o protocolo de Jackson, Pollock e Ward (1980), para sexo feminino de acordo com as recomendações de Heyward e 
Stolarczyk (2000). 

               Após as avaliações antropométricas, foram realizadas mais três reuniões, com dois objetivos: 1) realizar levantamento das refeições realizadas pelos corredores e relatar suas ingestões alimentares; e 2) promover a reeducação alimentar por meio da explicação da pirâmide alimentar proposta por Philippi et 
al. (1999).

               Para a análise dos marcadores sanguíneos do sistema imune foi realizada uma reunião para entrega das requisições em formulário identificado para cada corredor, tanto no grupo placebo quanto no grupo experimental. Os procedimentos de coleta de sangue, efetuados em laboratório particular, foram realizados em duas etapas, a saber, a primeira na semana que antecedeu o período de suplementação e a segunda na semana seguinte ao término do uso da suplementação. O responsável técnico do laboratório autorizou a pesquisa mediante a assinatura de uma declaração. Os corredores, ao chegarem ao laboratório, identificavam-se e tinham o sangue coletado em sala individualizada. Após o término das oito semanas de suplementação os corredores retornaram ao laboratório para novas análises de sangue e dos marcadores do sistema imune contidos na saliva. As variáveis analisadas foram leucócitos, linfócitos, IgA e IgG plasmáticos, bem como IgA salivar.

               Os sujeitos do presente estudo foram divididos em dois grupos: grupo placebo (GP; n = 7 corredores) e grupo experimental (GE; n = 12 corredores). A pesquisadora solicitou reuniões quinzenais para a entrega da suplementação e do placebo em frascos fechados para o período de estudo. A suplementação, com duração total de oito semanas, foi feita com 30 g de farelo de aveia para 12 corredores, e o placebo foi de 20 g de talco para sete corredores, distribuídos em frascos iguais, para não permitir a identificação do suplemento utilizado por cada atleta. O farelo de aveia foi comprado pela pesquisadora em uma loja especializada em produtos alimentícios e o talco foi adquirido em farmácia de manipulação. A pesagem e distribuição dos suplementos ficaram sob a responsabilidade de um técnico do laboratório, garantindo o caráter duplo-cego do estudo.

               A análise dos dados foi realizada por meio da estatística descritiva (média e desvio padrão da média). Utilizou-se o teste “t” de Student para amostras independentes e o teste de Wilcoxon, seguindo do teste U Mann-Whitney, para verificar a diferença entre os grupos placebo e experimental nas variáveis quantitativas. O nível de significância adotado foi p <0,05. [...]

DISCUSSÃO

               O principal objetivo do presente estudo foi avaliar o efeito do consumo de uma fonte de fibras alimentares - no caso, o farelo de aveia - sobre as variáveis antropométricas e bioquímicas de corredores de rua. A ingestão regular de fibra alimentar na alimentação diária promove redução no consumo de energia por meio do aumento da saciedade e consequente diminuição da fome (ANDERSON et al., 2009).

               A ingestão do farelo de aveia pode modificar a massa corporal, pois este parâmetro interfere diretamente no IMC. Também existe relação entre a massa corporal, a aptidão cardiorrespiratória e a circunferência abdominal. No presente estudo a massa corporal diminuiu com maior ingestão de farelo de aveia de 70,9 Kg (±8,34) para 70,1 Kg (±8,3). O IMC também reduziu em função da alteração da massa corporal. Houve ainda uma redução na circunferência abdominal de 80,5 cm (± 5,56) para 79,2 cm (±4,61) após suplementação com farelo de aveia. Brennan, Louise e Cleary (2005) relatam que alimentos com alto teor de β-glucanas têm um potente efeito sobre a saciedade pós-prandial prolongada e que este aumento na saciedade pode estar relacionado à redução de massa corporal que foi observada no presente estudo. 

               Quanto à redução na circunferência abdominal, segundo Oliveira e Dos Anjos (2008), a prática de exercício físico acarreta redução na circunferência abdominal e na gordura visceral independentemente de modificações no IMC; no entanto, no presente estudo, o uso do farelo de aveia associado à prática do treinamento de corrida potencializou a redução da circunferência abdominal, o que não foi observado apenas com o treinamento. 

               Com relação ao sistema imune, o organismo é monitorado por dois tipos de imunidade, a inata e a adquirida, as quais agem de maneira cooperativa. A inata (natural) possui o mesmo mecanismo de defesa contra a maioria dos agentes infecciosos e é composta por epitélios, proteínas sanguíneas, fagócitos, como os neutrófilos e macrófagos; já a imunidade adquirida ou específica responde de maneira particular aos vários tipos de antígenos, portanto é especializada. Os linfócitos e os anticorpos por eles produzidos são responsáveis pela ativação deste mecanismo de defesa (KELLEY, 2004). Neste sentido, sabe-se que hábitos alimentares inadequados podem exercer efeitos negativos sobre a supressão do apetite e a absorção dos alimentos, como também podem provocar aumento dos requerimentos energéticos e perda de nutrientes essenciais ao 
funcionamento do organismo (GLESSON; NIEMAN; PEDERSEN, 2004). O sistema imunológico, como um todo, sofre modulações negativas a partir da desnutrição proteicocalórica, principalmente no que se refere a 
atletas de esportes que são divididos de acordo com o peso corporal (ex. lutas, boxe, levantamento de peso) e a esportes em que a redução do peso corporal pode beneficiar o desempenho (ginásticas, maratonas). 

               Outra questão importante é que exercícios exaustivos agudos e/ou o treinamento crônico de endurance podem produzir distúrbios imunes, como a redução na contagem de leucócitos e linfócitos, consequentemente aumentando a susceptibilidade a infecções do trato respiratório superior (NIEMAN et al., 2003, 2004). Alguns mecanismos têm sido propostos com vistas a explicar a susceptibilidade a infecções respiratórias em atletas. O cortisol, que aumenta durante e após exercícios de endurance, exerce um importante papel sobre os distúrbios imunes (PEDERSEN et al., 1997), como por exemplo, os componentes do sistema imune inato e adquirido, especialmente os leucócitos e linfócitos. 

               Os linfócitos B produzem as imunoglobulinas (anticorpos), as quais exercem importantes funções imunológicas, ao passo que a produção de imunoglobulina A salivar (IgAS) se constitui como o principal efetor da função imune das mucosas, fornecendo a “primeira linha de defesa” contra os antígenos. De fato, a maioria dos estudos com exercício avaliaram o IgA salivar como um marcador da imunidade da mucosa (WALSH et al., 2011). Adicionalmente, as imunoglobulinas secretadas no espaço extracelular protegem o corpo de diversas maneiras e podem ser marcadoras das infecções das vias aéreas superiores que acometem os atletas de resistência aeróbia no período pós prova (NIEMAN et al., 2003, 2004).

               Neste sentido, nosso trabalho mostrou redução significativa nos valores séricos de IgA e de IgG sanguínea no grupo farelo de aveia. Dâmaso (2001) relata que períodos de treinamento intenso promovem decréscimo na quantidade de anticorpos de classe IgA em atletas de elite, o que está fortemente ligado a infecções do trato respiratório superior. Janeway et al. (2007) constataram que camundongos deficientes em Stat6 não possuem células produtoras de IgE e apresentam um número aumentado de células produtoras de anticorpos IgG (mecanismo de feedback). Curiosamente, o aumento na concentração sérica, a elevação da taxa de catabolismo e a diminuição do tempo de meia vida da imunoproteína IgG ocorrem de forma concomitante.

               As diversas propriedades biológicas de um anticorpo são observadas pelas atividades da IgG na presença de antígenos invasores como os vírus, as bactérias, os fungos e/ou os protozoários, assim como toxinas, sendo que cada atividade possui uma extensa e complexa ação sobre a resposta imune (JANEWAY et al., 2007).

               Algumas limitações do presente estudo devem ser consideradas, como o reduzido número de indivíduos avaliados e o curto tempo de análise; no entanto, o uso de farelo de aveia parece ser interessante para amenizar o aumento das imunoglobulinas no sangue, que ocorre, por exemplo, na presença de patologias. Um aspecto 
importante a ser considerado são os valores de normalidade das imunoglobulinas descritos por Janeway et al. (2007), os quais mostram que a concentração normal de IgA em adultos de é 60 a 380 mg/dL-1 e de IgG 600–1.400 mg/dL. Neste estudo os resultados bioquímicos mantiveram-se dentro dos padrões de normalidade, 
demonstrando que esta redução, apesar de significativa, provavelmente não foi danosa ao sistema imune.

CONCLUSÃO 

               O presente estudo demonstrou que o uso crônico de farelo de aveia promove alterações antropométricas significativas em corredores de rua, no tocante à redução da massa corporal, do IMC e da circunferência abdominal. No que se refere às variáveis imunológicas, apenas discretas alterações foram observadas, por isso são necessários outros estudos para confirmar os efeitos da suplementação do farelo de aveia sobre estes parâmetros em corredores. Esta intervenção também deve ser investigada em diferentes esportes e corredores de elite mundial, pois os resultados podem ser diferentes de acordo com o tipo e o nível do treinamento aplicado. Assim, com relação à resposta imune ao exercício, existem muitas perguntas que precisam de respostas, com o intuito de entender e esclarecer este paradigma associado ao uso da suplementação de farelo de aveia. 


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